Dando seqüência à postagem anterior, pincei esta citação de meu Um obscuro encanto: gnose, gnosticismo e a poesia moderna:
Não sei de nenhuma outra Cristandade e de nenhum outro Evangelho a não ser a liberdade de ambos, corpo & mente, para exercer as Divinas Artes da Imaginação, Imaginação, o Mundo real & eterno do qual este Universo Vegetal não passa de uma sombra fugidia, & no qual viveremos em nossos Corpos Eternos ou Imaginativos quando estes Corpos Mortais Vegetais não mais existirem. Os Apóstolos não conheciam nenhum outro Evangelho.
Bonito, não é? Transpira sinceridade. É de Jerusalém, dos últimos livros de Blake, de 1820 (ele morreria em 1827, aos 70 anos), publicado postumamente. Está no Blake completo, a edição Keynes, à pg. 716.
Mais uma citação – esta é de de Novalis, contemporâneo de Blake, também muito romântico, muito místico, muito religioso:
Mas o verdadeiro poeta sempre permaneceu um sacerdote, assim como o verdadeiro sacerdote sempre permaneceu um poeta – e não deveria o futuro nos trazer de volta esse antigo estado de coisas? […] No mundo antigo, religião já era até um certo ponto o que se tornará para nós – poesia prática.
É dos escritos filosóficos, os fragmentos de Novalis.
Não adiantaria panfletar, distribuir cópias às portas dos templos nos quais candidatos tentam contabilizar apoios – este tem a Universal, aquele a Mundial, aquele outro a Renascer e alguns padres… – para mostrar que a relação deles com religião é a mesma da subliteratura com a literatura. Mas seria uma boa intervenção anarquista.
Para enriquecer as entradas (tags) ‘rebelião religiosa’ e ‘anarquismo místico’, o poema de Ginsberg, “Kral Mahales”, cuja tradução já havia postado aqui:
https://claudiowiller.wordpress.com/2012/04/08/um-poema-de-ginsberg/
Voltarei a falar – e a escrever – sobre tudo isso.
Posted by célia musilli on 21/09/2012 at 20:25
Ler seus textos é uma viagem. Gosto como arranja os fragmentos. Tem um modo especial de escrever, mesmo ensaios ou textos acadêmicos, sem perder a poesia. E que poema do Ginsberg, traduzido por vc, no link. MARavilha!
Posted by Joaquim Mattar on 21/09/2012 at 20:27
Sempre enriquecedor as postagens do grande poeta Willer. Vivenciar Blake, Novalis, Baudelaire, Thomas de Quincey, Wat, Artaud entre outros é uma fonte inesgotável de saber e vida. ” Na noite sou uma luz, vendo velas se ascender, quando vejo sumi, nasci, nasci em você”. Joaquim Mattar
Posted by loualbergaria on 21/09/2012 at 23:46
Deus poesia natureza humanidades, tudo, infinitamente amalgamado na ideia da unicidade.
Antes do Big Bang estava tudo junto, depois da explosão a separação e a eterna busca pelas partes que faltam, e que nos faltam.
Beijo! mais um belíssimo post!
Lu
a propósito: não uso mais reticências, percebeu? rsrs
Posted by Eiane Boscatto on 25/09/2012 at 01:06
Lindo! Conheci William Blake há pouco tempo em um livro que li, e depois ouvi seu nome novamente frequentando as oficinas de surrealismo. Achei essa citação que também gostei muito, como tudo dele: O homem não tem um corpo separado da alma. Aquilo que chamamos de corpo é a parte da alma que se distingue pelos seus cinco sentidos. Concordo com ele, é um engano tentar dissociar o corpo da alma sob pena de se desperdiçar emoção.
Posted by Ruth on 25/09/2012 at 11:45
Maravilha! Amei! E muito oportuno mesmo. Beijos.
Posted by O tigre de William Blake | Claudio Willer on 27/10/2013 at 17:59
[…] https://claudiowiller.wordpress.com/2012/09/21/mais-william-blake/ […]