Pela editora Córrego de Gabriel Kolyniak. Ilustrada, com fotos de originais por Sendi Moraes. Distribuída como recompensa aos que contribuíram para a Biblioteca de Roberto Piva. Ou, pelo valor equivalente, em http://www.editoracorrego.com.br/departamento/67263/06/gavie3o2dde2dpenacho Minha ilustração aproveita uma foto postada na rede social por Demetrios Galvão.
Suponhamos alguém que desconhecesse a poesia de Piva. Que não houvesse lido as Obras reunidas (Globo, três volumes), ou Paranóia, ou alguma das edições avulsas. Descobriria, através de Antropofagias e outros escritos e do recente Roberto Piva, da Coleção Postal / Azougue editorial / Cozinha experimental, também fora de comércio (só para assinantes da coleção), um poeta com voz própria: vigoroso, contundente, inovador. Um neo-pagão radical com uma imagética riquíssima. Alguém que abusou do direito de contradizer-se reivindicado por Baudelaire: reparem na prosa poética sobre os lugares mágicos de São Paulo, seguida, poucas páginas após, pelo desejo de, transformado em Nero, incendiar um bairro da cidade. E principalmente um poeta culto: onde achou, entre outras raridades, a epígrafe de Germain Nouveau, Qui prend l’encens de l’âme et les roses du corps,/ Qui simbolise um lys et que l’enfant enseigne.? Suas citações e transcrições mostram como leu bem os autores que mencionava – sem nunca parecer erudito chato, porém sempre no modo vital, exuberante e irreverente.
A questão, examinada por mim no posfácio do livro e por Roberto Bicelli na orelha é a seguinte: o que deu em Piva para deixar tanta poesia de qualidade fora das Obras reunidas? Fica claro que os 20 poemas com Brócoli poderiam ter sido, pelo menos, 22. Que poderia ter havido mais em Quizumba, Ciclones, etc. Como diriam os antigos: para gáudio dos leitores. Felizmente, tudo isso está sendo recuperado, bem como os desaparecidos Corações de Hot-Dog e Outdoors.
Algumas hipóteses e interpretações, apresentei-as em uma palestra recente. Esta: https://www.youtube.com/watch?v=72Oz6PjHKmw&feature=player_embedded A sinopse está aqui: https://www.academia.edu/28631158/A_sinopse_de_uma_nova_palestra_sobre_Roberto_Piva
Quero voltar ao assunto. Assim como também pretendo voltar a tratar de Paranóia, mostrando como Wesley Duke Lee incluiu em suas fotografias para esse livro uma escrita cifrada, de alusões, expondo e endossando a poética e visão de mundo de Piva.
Enquanto isso, reproduzo o poema final de Antropofagias e outros escritos, “O que importa é a porta”. Alusão ao poema de Herberto Helder, “joelho, salsa, lábios, mapa”? Observem como Piva investe contra os formalistas, os “cancerosos estudantes de semiótica”, e ao mesmo tempo brinca com eles, mostrando que poderia seguir por esse caminho, jogando com a relação do som e sentido, o quanto quisesse. Mas não quis – não lhe interessava tornar-se letra de música, acho.
As teorias passam. A rã fica.
Jean Rostand, Carnets d’un Biologiste
O que importa e a porta
cancerosos estudantes de semiótica
não o buraco negro da fechadura
na rigidez apolínea dos esquifes
importa é vento além da porta que ainda ulula no hori-
zonte
gravatas de maconha enlaçadas na aurora
centauros trotando no porre das avenidas
cometas nas praias silenciosas
Eu quero tocar o tambor nesta orgia de claridades
circular na roda-gigante do coração do garoto punk
onde a tribo do futuro cochila
esperando o sinal do Ataque
EM TEMPO: Continua valendo o post precedente, sobre a venda promocional de meus livros de poesia. https://claudiowiller.wordpress.com/2016/12/09/venda-promocional-de-estranhas-experiencias/ E o próximo post será sobre o festival de cinema beat no CNBB, a partir de 06 de janeiro, no qual darei palestra. Aguardem.
Posted by Solange Padilha on 23/12/2016 at 23:19
Obrigado Cláudio. Um Natal de alegrias. beijos
Posted by claudiowiller on 24/12/2016 at 08:55
Para você também, Solange!