Desde a década de 1990, Floriano Martins vem publicando coletâneas de e sobre poetas surrealistas deste nosso continente. Um trabalho que foi crescendo, resultou em uma edição na Costa Rica e outra na Venezuela de Un nuevo continente, versões consideravelmente ampliadas de algo já publicado no Brasil (O começo da busca, Escrituras, 2001). Como podem ver pelo índice reproduzido a seguir (junto com a apresentação por Marco Lucchesi), esta é a edição definitiva; a mais completa e, sem dúvida, mais substanciosa de uma enorme produção que precisa, urgentemente, ser lida, divulgada e estudada entre nós. Diria que a bibliografia brasileira sobre surrealismo dá um salto – qualitativo e quantitativo.
Observem que o livro tem que ser encomendado. Do jeito como está isso que, eufemisticamente, pode ser chamado de “mercado editorial” no Brasil, cada vez mais me parece ser o caminho para que tenhamos acesso à informação. O trabalho editorial de Floriano Martins, inseparável da sua produção como poeta, artista visual, ensaísta e tradutor, tornou possíveis preciosidades – através de seu selo ARC ou em parcerias com a Sol Negro e Nephelibata – que tive ocasião de comentar aqui, neste blog. Incluem Aldo Pellegrini, Hans Arp, Vicente Huidobro e muito mais.
Vejam:
FLORIANO MARTINS | Um novo continente – Poesia e surrealismo na América
ARC Edições | Ceará, 2016
Capa, fotografias & vinhetas © Floriano Martins
Traduções © Allan Vidigal (inglês), Eclair Antonio Almeida Filho (francês), Floriano Martins (espanhol), Márcio Simões (inglês), Milene Moraes (francês)
Revisão & projeto gráfico © Floriano Martins & Márcio Simões
Orelhas © Marco Lucchesi
Posfácio © Leontino Filho
Desenho de FM ficha técnica © Fátima Lodo Andrade da Silva
Desenho de FM orelha 1 © Adriel Contieri
Brochura, 560 pgs | Formato 14×21 cm | Peso 810 gm
R$ 100,00 (frete nacional simples incluso)
Brinde de lançamento: Circo Cyclame (teatro automático), de Zuca Sardan & Floriano Martins | ARC Edições | Ceará, 2016 | Participação especial (posfácio-entrevista) © Kazimir Pierre | Desenhos © Zuca Sardan | Capa, colagens, vinhetas & projeto gráfico © Floriano Martins
UM NOVO CONTINENTE
Poesia e Surrealismo na América
Celebração da memória: Notas de acesso
◌ Capítulo 1: Diário de bordo
◊ Primeiras visões: América Latina & Caribe
◊ Visões do exílio: Estados Unidos
◊ Visões da névoa: Brasil
◌ Capítulo 2: Cartografia da inquietude
◊ Labirintos incessantes [enquete]
Afonso Henriques Neto ● Alex Januário ● Alexandre Fatta ● Allan Graubard ● Armando Romero ● Carlos Bedoya ● Carlos M. Luis ● Claudio Willer ● David Nadeau ● Emilio Andrés Padilla Pacheco ● Enrique de Santiago ● Fernando Palenzuela ● Franklin Fernández ● Gabriela Trujillo ● J. Karl Bogartte ● Jorge Valdés Ramos ● Juan Calzadilla ● Ludwig Zeller ● Luis Fernando Cuartas ● Marcus Salgado ● María Meleck Vivanco ● Nelson de Paula ● Oscar Jairo González Hernández ● Pedro Arturo Estrada ● Philip Daughtry ● Raquel Jodorowsky ● Roberto Piva ● Rodrigo Hernández Piceros ● Rodrigo Verdugo Pizarro ● Rubens Zárate ● Thomas Rain Crowe ● Viviane de Santana Paulo ● Zuca Sardan
◊ Caravana de relâmpagos [depoimentos]
Claude Gauvreau por Ray Ellenwood ● Conde de Lautréamont por Juan José Ceselli ● Enrique Molina por Armando Romero ● Eugenio Granell por Carlos M. Luis e Susana Wald ● Freddy Gatón Arce por Manuel Mora Serrano ● Jorge Cáceres por Enrique de Santiago ● Jorge Camacho por Carlos M. Luis ● Juan Antonio Vasco por Rodolfo Alonso ● Juan Sánchez Peláez por César Seco ● Laurence Weisberg por Beatriz Hausner ● Manuel Scorza por Hildebrando Pérez Grande ● Philip Lamantia por Neeli Cherkovski ● Roberto Piva por Floriano Martins ● Yvan Goll por Nan Watkins
◊ A vida imaginária do surrealismo [entrevistas]
Allan Graubard (Estados Unidos) ● André Lamarre (Canadá) ● Armando Romero (Colômbia) ● Beatriz Hausner (Canadá) ● Carlos M. Luis (Cuba) ● Claudio Willer (Brasil) ● Enrique Gómez-Correa (Chile) ● Ernest Pepín (Martinica) ● Leila Ferraz (Brasil) ● Ludwig Zeller & Susana Wald (Chile) ● Manuel Mora Serrano (República Dominicana) ● Sergio Lima (Brasil) ● Thomas Rain Crowe (Estados Unidos) ● Zuca Sardan (Brasil)
◌ Capítulo 3: Vanguarda clandestina
◊ Vértices magnéticos do horizonte
Jotamario Arbeláez: Colômbia e Nadaísmo ● Juan Calzadilla: Venezuela e El techo de la ballena ● Margaret Randall: México, Estados Unidos e El corno emplumado ● Miguel Grinberg: Argentina e Eco contemporáneo
◊ Celebração da memória: Últimas pistas
◌ Posfácio
◊ Aventuras da poesia no tempo: o inteiro continente revelado, por R. Leontino Filho
“Floriano Martins escreveu um livro de rara probidade intelectual. Diante de um repertório vasto, difícil e inacabado, elaborou uma articulação ousada e bem sucedida entre partes consideradas dispersas e intrafegáveis. Enfrentou a princípio – e com galhardia – uma nuvem de ideias em contínua migração. O primeiro passo foi dado com O começo da busca, que era um livro sem aduanas ideológicas ou embargos culturais. Era o anteprojeto de uma ousada cartografia. Não a que se faz dentro de um cômodo gabinete, de censuráveis a prioris e de outras imposturas intelectuais, conceitos que mal se adequam a uma geografia porosa, vibrátil, em que as ilhas distantes, porventura, podem formar um arquipélago inesperado, partindo-se de um insight, ou de uma atenção polifônica, nas camadas mais profundas da harmonia. O mapeamento de Floriano está para Borges e Calvino. Preciso e marcado de potencialidades. Atento a percursos mal visitados, como quando aborda certas formas clandestinas do Surrealismo, que não tomam parte sequer de um proto-cânone. Floriano está no microcentro de Buenos Aires e entre os Mapuches do Chile, interage com os poetas do México e com os de Cuba, com uma desenvoltura, uma atenção, um respeito que hoje anda quase perdido. O seu gabinete fica – como dizia Antonio Carlos Villaça – entre a estante e a rua, a escuta precisa e a polêmica aguda, provocadora, nunca próxima da gratuidade, a serviço de mais oxigênio e coragem.
Aplaudo sobremodo a arquitetura deste livro e a forma pela qual os capítulos crescem, à medida que avançamos, como se formassem uma afortunada espiral. A selva bibliográfica diz tudo: uma riqueza sem proporção, atenta às grandes linhas dos temas consagrados, bem como aos mais diversos e interessantes aspectos capilares. Floriano atinge a dimensão quase impenetrável do presente, de antenas abertas aos folhetos de vida breve e a uma zona viscosa e variável do que se costumou definir como sendo a blogosfera. E nem por isso abandona a diacronia, e nem se perde tampouco em concepções historicistas, em detrimento de uma historiografia forte.
Tenho Floriano Martins como um dos nomes cruciais para a compreensão das culturas da assim chamada América Latina – e não estou só nesta quadra. Poucos no continente possuem hoje um trânsito físico e mental como o dele, para todas as latitudes deste nosso velho Mundo Novo. Sua aventura espiritual bebe na fonte de um José Martí e sonha uma integração poética mais profunda e marcada pelo estatuto da emancipação. E, afinal, será preciso sublinhar que este livro foi escrito por um poeta de marca, um ensaísta vigoroso e um artista plástico que não separa a instância crítica da própria criação?
[Marco Lucchesi]
Este livro é uma espécie de fruto múltiplo de várias árvores. Seus ramos são diversos o suficiente para destacar o radical de mestiçagem que o define. Nasce de um breve texto escrito em 1994, quando ensaiei uma primeira e tímida aproximação do Surrealismo na América Latina. Desde então já me incomodava o fato de que o Surrealismo em nosso continente era visto – aceito ou rejeitado – como se houvera simplesmente saído das páginas dos manifestos redigidos por Breton. Tal embaraço acabou por dificultar a percepção do raio de atuação das vanguardas eclodidas no continente – em momentos distintos não por sintoma tardio, mas sim porque frutos de questionamentos culturais pertinentes a cada país –, notadamente aquelas que mantiveram relações estreitas com o Surrealismo.
[Floriano Martins]
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Posted by Remisson Aniceto (@RemissonA) on 18/08/2016 at 08:31
Bom dia, Willer, como vai?
Parabéns por esta excelente publicação sobre mais um Livro do Floriano (sim, com L maíusculo mesmo, como são todos os livros dele, referência de qualidade e bom gosto em se tratando de poesia).
E parabéns por todo o diferenciado conteúdo do seu blog, onde quem aprecia o que é a boa literatura não se arrepende de entrar.
Um abraço do Remisson
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Posted by Willians "Cabeça de Gohan" Kihara on 29/08/2016 at 01:03
Fiquei curioso. Será que é bom mesmo? Tem gente do Brasil além de você e o Piva?
Posted by Remisson Aniceto (@RemissonA) on 01/12/2017 at 08:04
Willians, bom dia, tudo bem? O Piva, merecidamente, está lá, eu não. Nunca tive tal pretensão, se bem que seria uma honra ter algum texto meu naquelas páginas. Quanto ao Floriano, ele prioriza a excelência na literatura. Leia mais sobre ele para conferir. Um ótimo dezembro pra você e sua família. Abraço.