Posts Tagged ‘criação poética’

Nova oficina de criação literária: Criação Poética, no SESC-Ipiranga

Será às quintas feiras, no horário das 19 às 21 h.
Oito sessões. Começa dia 10 de julho, e seguirá até o dia 28 de agosto.
O SESC-Ipiranga fica à Rua Bom Pastor, nº 822; telefone; (11) 3340-2000. email; email@ipiranga.sescsp.org.br. É acessível, lembrando que a estação Sacomã do metrô fica na mesma Rua Bom Pastor, porém na altura do nº 3.000. Vejam o mapa: http://www.sesc.com.br/portal/sesc/unidades/saopaulo/sesc+ipiranga
A oficina será na sala de convivência, na mesma rua, porém no número 709, e a inscrição para a oficina pode ser realizada na Central de Atendimento: bit.ly/criacaopoetica . A inscrição é de R$ 4,00 para comerciários, R$ 10,00, meia, R$ 20,00, seres humanos em geral, para a oficina toda.
Seguirei o mesmo programa e metodologia de oficinas anteriores: tratarei da imagem poética, valor literário, prosa poética e poesia, a expressão não-discursiva, a leitura. Interessará a poetas e também a prosadores e apreciadores de literatura em geral. Pedirei aos que escrevem que tragam amostras de textos de sua autoria.
Agradeço retransmissão e demais modos de divulgação.
A seguir, o “flyer” da oficina.

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A demissão de Claudio Daniel da curadoria de literatura do Centro Cultural São Paulo: uma petição

Claudio Daniel relata a demissão da curadoria de literatura do Centro Cultural São Paulo em seu blog:
http://cantarapeledelontra.blogspot.com.br/2014/04/relatorio-de-gestao.html
Um abaixo-assinado, dirigido ao Secretário Municipal de Cultura, expressa o que pensamos a respeito:
http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR71380
Achei ofensivo. Ele trabalhou um bocado. Com recursos muito escassos, além de suportar a pesada burocracia, tirou leite de pedra. Demitir desse jeito é falta de consideração com relação a ele e para quem freqüentou ou se apresentou. Por causa de algum ‘desentendimento administrativo’, interromperem uma programação de qualidade. Ninguém está nem aí para o que nós, participantes e freqüentadores, queremos ou esperamos.
Havia aberto essa programação, em fevereiro de 2011, lendo meus poemas para um público, segundo o Centro Cultural, de 130 pessoas. Retornei como espectador, leitor de poemas, participante em mesas ou conferencista. De modo evidente, havia-se consolidado um espaço para a poesia. Descontinuá-lo é retrocesso. Por isso, peço que assinem e divulguem.
Sobre paradoxos da política, farei alguns comentários outro dia. Ou não – talvez não haja paradoxos, apenas uma consistente e crescente mediocridade.

Surrealismo no SESC de Piracicaba, no final deste mês

Será um ciclo substancioso, examinando surrealismo sob vários ângulos. Dias 26 a 29 de março; ou seja, na próxima semana. Agradeço por retransmitirem a interessados em Piracicaba e região. Terei o prazer de participar, dando um curso breve – mas substancioso, espero – e participando de mesa instigante com Raul Fiker e Célia Musili. Haverá encenações teatrais pelo Teatro do Incêndio de Marcelo Marcus Fonseca (quem ainda não assistiu a São Paulo Surrealista, aproveite a chance) e outras atrações, como um estimulante workshop.

A seguir, a programação completa, tal como divulgada pelo SESC – mostra ainda segue pelo mês de abril, como pode ser verificado nesta matéria:http://www.sescsp.org.br/online/artigo/7398_ONDE+ESTA+O+SURREAL#/tagcloud=lista

Observem que tem links para inscrições e fones para informações:

Onde anda o surreal?
Retorno ao senso incomum

Projeto sobre um dos mais importantes e radicais movimentos estéticos do século XX e que propõe imersão em universo de símbolos que deslocam o homem de sua passividade habitual e coerência lógica, lançando-o em percepções que transpõem os limites da realidade.

MINICURSO: O Surrealismo no Brasil
As principais características do movimento e suas influências no Brasil, comCláudio Willer, poeta, ensaísta, crítico e tradutor brasileiro, doutor em Letras pela USP, com ensaio publicado no livro O Surrealismo (ed. Perspectiva, 2008). Citado em antologias de poesia surrealista e livros de história da literatura como um dos únicos poetas brasileiros a receber resenha do periódico francês La Brèche – Action Surréaliste, dirigida por André Breton, autor do Manifesto Surrealista19h às 22h. Internet Livre. Não recomendado para menores de 16 anos. Grátis.Inscrições no local ou pelo e-mail inscricao@piracicaba.sescsp.org.br, informando nome do curso, nome completo do participante, idade e telefone.

TEATRO
EM.CENA.AÇÃO

Com Cia Teatro do Incêndio

Fim de Curso
Texto: René de Obaldia
Tradução: Cláudio Willer
Direção: Marcelo Marcus Fonseca
A peça discute a morte de um professor universitário por jovens estudantes, que pedem clemência pelo crime. Os alunos alegam ter assassinado alguém que já estaria morto. Temas como coerção, liberdade, ideologia, morte, Deus e sociedade de consumo estão intimamente ligados nessa fábula de mistério, em que a vida se torna convulsiva e retalhada pela frieza das relações humanas. 20h. Ginásio. Não recomendado para menores de 16 anos.Ingressos: R$ 2,00 (trabalhadores no comércio de bens, serviços e turismo matriculados), R$ 5,00 (usuários, estudantes, idosos, professores da rede pública, aposentados e deficientes) e R$ 10,00.

ESPECIAL
ENCONTRO SURREAL
Willer & Fiker
Cláudio Willer e Raul Fiker conversam sobre a presença do surrealismo em suas obras literárias e os motivos que os levaram a “dialogar” com o movimento. Mediação: Célia Musilli. 11h. Teatro. Não recomendado para menores de 16 anos. Grátis.

WORKSHOP
Teatro e Surrealismo

Com o diretor Marcelo Marcus Fonseca para apresentação do processo de investigação do universo surrealista da Cia. Teatro do Incêndio. Após exercícios e debates, os participantes acompanharão a preparação e ensaio do espetáculo São Paulo Surrealista junto aos atores do grupo. 16h. Ginásio. Não recomendado para menores de 16 anos. Grátis. Inscrições na Central de Atendimento ou pelo e-mail inscricao@piracicaba.sescsp.org.br, informando nome do workshop, nome completo do participante, idade e telefone.

TEATRO
EM.CENA.AÇÃO

Com Cia Teatro do Incêndio

São Paulo Surrealista
Texto e direção: Marcelo Marcus Fonseca
Na trama, os escritores Mário de Andrade, Roberto Piva e Patrícia Galvão cruzam com cidadãos comuns e, em uma viagem surrealista, convidam o dramaturgo Antonin Artaud e o escritor André Breton, ambos franceses, para um passeio em São Paulo. Durante o trajeto, os poetas descobrem a relação entre a metrópole e o surrealismo, passando por ambientes típicos da boemia paulistana. 20h. Ginásio. Não recomendado para menores de 16 anos.Ingressos: R$ 2,00 (trabalhadores no comércio de bens, serviços e turismo matriculados), R$ 5,00 (usuários, estudantes, idosos, professores da rede pública, aposentados e deficientes) e R$ 10,00.

Mais em:

http://www.sescsp.org.br/programacao/28776_ONDE+ANDA+O+SURREAL#/content=programacao

SESC – Piracicaba: Rua Ipiranga, 155 , Centro PIRACICABA | CEP: 13400-480 Telefone:(19) 3437-9292 Entre em contato

Surrealismo, filosofia e política: mais

Havia postado no Facebook, reproduzo aqui para maior circulação, o link da revista digital Agulha, de Floriano Martins, na edição mais recente: http://www.revista.agulha.nom.br/ARC08capa.htm

Toda ela é de qualidade. E traz meu artigo sobre surrealismo e filosofia, versão revista da palestra que dei em dezembro na UNIFESP:
http://www.revista.agulha.nom.br/ARC08claudiowiller.htm

E também um artigo do ensaísta e poeta português António Cândido Franco, sobre as complexas relações de surrealismo, marxismo e anarquismo. A meu ver, surrealismo ‘advanced’, corrige equívocos e chavões:
http://www.revista.agulha.nom.br/ARC08andrebreton.htm

Além do sugestivo “Poesia e pederastia: o Mário de Andrade de Roberto Piva” de Ricardo Mendes Mattos, assim contribuindo para tirar do armário:
http://www.revista.agulha.nom.br/ARC08robertopiva.htm

Darei curso de surrealismo este mês. Mas será em Piracicaba, no SESC. Também haverá mesa, mostra e espetáculo. Divulgarei programação, em breve.

Meu blog tem 248 assinantes. Subscrevam, gostaria de chegar a 11.342  – pode ser também 10.738.

O resultado do concurso de leitura de poesia

Aquele da postagem precedente. Imediatamente, Elvio Fernandes e em seguida Elson Froes, Vince Vinnus, Fernanda Pacheco e Assis de Mello identificaram que o autor é Charles Bukowski. Fernanda já tinha o livro, no original – é o poema final do póstumo The people look like flowers at last. Os demais reconheceram pelo estilo.

Original a seguir (agradeço a Fernanda, que copiou do pdf). Elson e Vince acertaram que o tradutor sou eu. As 300 páginas de poemas saem este ano pela L&PM, estou fazendo última revisão. Se aparecer alguém que entenda de corridas de cavalos e sua terminologia, agradeço – ainda tenho dúvidas. Mesmo neste poema, talvez mexa em algo (reprieve, moratória?).

Este blog tem 246 assinantes ou “seguidores”. Agradeço aos que contribuírem para alcançar minha meta de 9.348 assinantes. 8.753, também pode ser.

sun coming down

no one is sorry I am leaving,
not even I;
but there should be a minstrel
or at least a glass of wine.

it bothers the young most, I think:
a nonviolent slow death.
still it makes any man dream;
you wish for an old sailing ship,
the white salt-crusted sail
and these a shaking out hints of immortality.

sea in the nose
sea in the hair
sea in the marrow, in the eyes

and yes, there in the chest.
will we miss

the love of a woman or music or food
or the gambol of the great mad muscled
horse, kicking clods and destinies
high and away
in just one moment of the sun coming down?

but now it’s my turn
and there’s no majesty in it
because there was no majesty
before it
and each of us, like worms bitten
         out of apples,
deserves no reprieve.

death enters my mouth
and snakes along my teeth
and I wonder if I am frightened of
this voiceless, unsorrowful dying that is
like the drying of a rose?

Um novo concurso de leitura de poesia

Consiste em responder o seguinte:
a. quem escreveu o poema a seguir?
b. quem o traduziu?

Vale tentar adivinhar. Possibilitará observações sobre dicções poéticas, estilo etc. Ganhador receberá exemplar autografado de livro meu.

sol se pondo

ninguém está triste por eu ir embora,
nem mesmo eu;
mas deveria haver um menestrel
ou ao menos um copo de vinho.

isso incomoda mais aos jovens, eu acho:
uma morte lenta sem violência.
ainda assim isso faz qualquer homem sonhar;
você deseja um velho veleiro,
a vela branca incrustada de sal
e o mar embalando sugestões de imortalidade.

mar no nariz
mar nos cabelos
mar na medula, nos olhos
e sim, no peito.
sentiremos falta
do amor de uma mulher ou música ou comida
ou o corcovear do grande cavalo louco e
musculoso,
pisoteando torrões de terra e destinos
para o alto e para bem longe
em um só momento de sol poente?

mas agora é a minha vez
e não há majestade nisso
pois não houve majestade
antes disso
e cada um de nós, como vermes mordidos
nas maçãs,
não merece moratória.

a morte penetra em minha boca
e rasteja ao longo dos meus dentes
e eu me pergunto se estou com medo deste
morrer sem voz e sem lamentos que é
igual ao murchar de uma rosa?

Novos poemas ambientalistas: Roberto Piva

Selecionei de Ciclones. São sublimes: “o nada árido das areias” – como sabia compor versos. Tenho o arquivo em word de Ciclones: após fazer que Sergio Cohn digitasse os poemas para a edição de 1997 da Nanquim, passou em casa para uma última revisão, gravei. Selecionei aqueles em que é mais evidente a dicotomia natureza-cidade – mas a relação de Piva com São Paulo é ambivalente: inferno tenebroso e também lugar de revelações, como já observei em ensaios.

gaivotas
estrelas que despencam
no mar
& se eclipsam

Baco
me transforma
num astro vibratório
com este elixir
de cacto selvagem.
Vejo uma andorinha
carregando um solfejo
enquanto o núcleo
do Sol explode

piratas
plantados
na carne da aventura
desertaremos as cidades
ilhas de destroços
Ilha Comprida 88

cem planetas? cem pupilas?
simpatia das coisas distantes
o nada árido das areias
Praia do Guaiuba 82


Meio-dia dourado
acaricia garotos & pássaros
luz de sonho
partindo o Mundo
no centro do coração
lâmina da Eternidade
Ilha Comprida 86

II.
pelos direitos não-
humanos do planeta
a Ilha Comprida
nada
nas pradarias do Céu
gavião pandemônio
talhado na parte
mais dura do vento

 

            para Sergio Cohn
eu caminho seguindo
o sol
sonhando saídas
definitivas da
cidade-sucata
isto é possível
num dia de
visceral beleza
quando o vento
feiticeiro
tocar o navio pirata
da alma
a quilômetros de alegria
            Ponto Chic 95

BR 116

necessito cometas
no céu Caiçara
onde plana o
falcão mateiro
Juquitiba, Miracatu,
Vale do Ribeira
gole de vinho
quando nasce a
manhã
na estrada que
leva ao mar
& a Ilha aflorando na
névoa malva
do maciço serpentário
da Juréia
                                                                    BR 116, 95

Sinopse da palestra sobre poesia e loucura, SESC Santos, 15 de fevereiro

No ciclo Mente & Arte: Subjetivo infinito, coordenado por Flavio Viegas Amoreira. Não examinei todos os tópicos dessa sinopse. Pulei o exame de Artaud e geração beat: material para curso ou ciclo de palestras. Preferi dar maior atenção à questão de método ou de crítica ao final: a distinção entre o texto louco e o autor louco.

1. A MUDANÇA DE STATUS DA LOUCURA AO LONGO DA HISTÓRIA:
a) na Antiguidade, o louco como emissário divino; o delírio inspirado em Platão; sibilas, mênades, pitonisas oráculos e xamãs.
b) com o advento do cristianismo, o louco como um possuído pelo diabo.
c) a loucura clássica: o louco como alguém a ser isolado; caso extremo, a Nave dos Loucos (entre outras fontes, História da loucura de MICHEL FOUCAULT)
c) o louco como doente a ser tratado, com o Iluminismo, na virada dos séculos 18 e 19: PHILIPPE PINEL (1745-1826); a psiquiatria e as classificações ou tipologias da loucura.
d) os sintomas, especialmente o delírio, passam a ser considerados significativos, dotados de um sentido: PIERRE JANET (1859-1943), JOSEF BREUER (1842-1925) e especialmente SIGMUND FREUD  (1856-1938): da hipnose e associação livre à interpretação e à compreensão mais profunda do ser humano
d) o louco como um criador: especialmente, ANDRÉ BRETON (1896-1966) e o surrealismo.

2. A MUDANÇA DO VALOR LITERÁRIO AO LONGO DA HISTÓRIA:
Sugeri um paralelo entre a percepção da loucura e aquela do valor artístico e literário:
a) o classicismo, valor como ajuste ao cânone; a imitatio dos mestres – mas relativamente, também valorizaram a inovatio, exemplifiquei com Dante Alighieri, que na Divina Comédia apresentou Virgílio como mestre mas homenageou Arnaut Daniel e Guido Cavalcanti, dois inovadores.
b) o valor romântico, arte como expressão do indivíduo, da subjetividade, do “eu”; a correlata valorização da originalidade.
c) o valor simbolista: citei ROGER SHATTUCK em The Banket Years, The Origins of the avant-garde in France, para quem, na belle époque (de 1885 a 1918) criações passaram a interessar, não mais como reprodução da norma, mas como desvio dessas normas. Se o romantismo havia questionado a imitatio, contrapondo-lhe a originalidade, para os simbolistas o artista deixou de ser quem eterniza o ideal do classicismo; passou a ser aquele que rompe com o ideal, afirmando-se como individualidade e diferença. Daí as proclamações, identificando o novo ao valor, como “é preciso ser absolutamente moderno” de ARTHUR RIMBAUD (1854-1891), e sua poética do desregramento dos sentidos, do delírio e da loucura.

3. POETAS LOUCOS:
Loucos românticos. FRIEDRICH HÖLDERLIN (1770-1843), que prosseguiu a escrever poesia de qualidade depois de perder a identidade, mergulhar na loucura. GÉRARD DE NERVAL (1808-1855), autor de uma narrativa delirante, Aurélia, escrita quando internado e antes de suicidar-se: “O que são as coisas deslocadas! Não me acham louco na Alemanha. […] A imaginação trazia-me delícias infinitas. Recobrando o que os homens chamam de razão, não deveria eu lamentar tê-las perdido?”. Mas quando escreveu os sonetos perfeitos de As quimeras também teve surtos; e narrativas em prosa como Silvia tem estranhos desvios, como bem percebeu UMBERTO ECO em Seis passeios pelos bosques da leitura; os relatos de viagem que confundem descrições, mitos e invenções.
Um louco simbolista: GERMAIN NOUVEAU (1851-1920), colega de Rimbaud em Londres, saiu andando em peregrinação, voltou anos mais tarde, nunca mais falou e continuou a escrever poesia de excelente qualidade. ALFRED JARRY (1873-1907), autor de Ubu Rei: excêntrico delirante e inovador. Para Shattuck, “aquilo que distingue Jarry de toda uma tradição de visionários, de Plotino a Rimbaud, é, antes de tudo, haver tentado, chegando quase ao suicídio, atingir um grau novo de existência, através do mimetismo literário, de confusão entre vida e arte”. RAYMOND ROUSSEL (1877-1933), autor de Locus Solus e Impressões da África: caso psiquiátrico, paciente de Pierre Janet.

4. SURREALISMO E LOUCURA:
A formação de ANDRÉ BRETON (1896-1966) em psiquiatria. No Manifesto do surrealismo, “o medo da loucura não nos impedirá de hastear a bandeira da imaginação”. Gênese do surrealismo em Gérard de Nerval. Alucinações, ataque aos psiquiatras e manicômios em Nadja. À notícia de que Nadja, em pleno delírio, havia sido internada, afirmou que, se fosse internado, mataria alguém, de preferência um de seus médicos, para que o deixassem em paz, confinado no isolamento. Simulação da loucura em Imaculée Conception de Breton e PAUL ÉLUARD. Elogio da loucura em La clé des champs, l’art des fous, sobre o movimento Art Brut, com JEAN DUBUFFET: o artista louco é uma reserva de saúde moral, por não criar para a aceitação pela crítica e mercado.
ANTONIN ARTAUD (1896-1948), sua ligação com surrealismo: a Carta aos médicos-chefes dos manicômios, de 1925, antecipando seus internamentos a partir de 1937. As Cartas de Rodez; “Loucura e magia negra” em Artaud o Momo; Van Gogh, o suicidado pela sociedade: “O que é um louco?” O reencontro de Breton e Artaud em 1946, do qual tratei em meu blog: https://claudiowiller.wordpress.com/2012/02/03/andre-breton-e-antonin-artaud/

5. GERAÇÃO BEAT: A VALORIZAÇÃO DA LOUCURA:
JACK KEROUAC (1922-1969), no início de On the Road: “[…] porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante – pop! – pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos ‘aaaaaah!’” Dentre os vagabundos encontrados por Kerouac em On the Road, o “fantasma de Susquehanna”, que “caminhava direto pela estrada no sentido contrário ao tráfego e quase foi atropelado várias vezes”. Perdeu a orientação espacial e já não sabe mais para onde vai. A mística da marginalidade como manifesto em On the Road: “Num entardecer lilás caminhei com todos os músculos doloridos entre as luzes da 27 com a Welton no bairro negro de Denver, desejando ser negro, sentindo que o melhor que o mundo branco tinha a me oferecer não era êxtase suficiente para mim, não era vida o suficiente, nem alegria, excitação, escuridão, não era música o suficiente.” Paráfrase do que Rimbaud escreveu sobre o “mau sangue” em Uma estadia no Inferno: “Sou um bicho, um negro. […] Falsos negros que sois, vós, maníacos, perversos, avaros. […]” (Rimbaud 1998, p. 141) A cosmovisão de Kerouac se traduz em reverência diante dos vagabundos errantes, e de índios, negros e integrantes de culturas arcaicas. Em Vanity of Duluoz, uma afirmação de princípios em favor do multiculturalismo: “[…] pois eu sabia que esses esquimós são um povo índio grande e forte, que eles têm seus deuses e mitologia, que eles conhecem todos os segredos de sua terra estranha e que eles têm uma moral e honra que ultrapassa a nossa de longe”. Em On the Road, camponeses indígenas são adâmicos e universais: “Essas pessoas eram indubitavelmente índias e não tinham, absolutamente nada a ver com os tais Pedros e Panchos da tola tradição civilizada norte-americana. Tinham as maçãs do rosto salientes, olhos oblíquos, gestos suaves; não eram bobos, não eram palhaços, eram grandes e graves indígenas, a fonte básica da humanidade, os pais dela.” Em Vanity of Duluoz, a revelação ao ser internado em um hospício em 1942 e conhecer “Mississipi Gene”, vagabundo errante por opção, também citado em On the Road. O personagem perfeito de Kerouac, alguém ao mesmo tempo negro, louco, emigrante, apátrida e delinqüente: conjunto de qualidades representadas por seu companheiro na balsa de Dover a Calais em Viajante solitário.
ALLEN GINSBERG (1926-1997) e a relação íntima com a loucura. A internação em 1949, quando conheceu CARL SOLOMON, leitor de Artaud. A loucura de sua mãe. Uivo, dedicado a Solomon: os trechos relacionados ao internamento de Solomon, e a terceira parte do poema: “Eu estou com você em Rockland”. Em Kaddish, o relato da loucura da mãe. Uma poética da loucura em “Sobre a obra de Burroughs”: “Não escondam a loucura”. A relação com Peter Orlowski e seus irmãos, também loucos.Uma visão de mundo: tolerância, uma sociedade em que coubessem os loucos e os normais, uma superação da dualidade loucura-normalidade.

6. UMA QUESTÃO DE FUNDO: A DIFERENÇA ENTRE O AUTOR LOUCO E O TEXTO LOUCO.
Convergência de ambos em Gérard de Nerval, louco que escreveu como um louco. Autor louco cujo texto nada teve de louco: GUY DE MAUPASSANT (1850-1893), autor de Bel Ami e O Horla. Há, contudo, confusão de ambos pela crítica, atribuindo características do texto ao autor, ao se declarar a loucura em LAUTRÉAMONT (Isidore Ducasse, 1846-1870), como o fizeram Léon Bloy, Rémy de Gourmont e outros. Exemplifiquei a boa interpretação da loucura de um texto com ROBERTO CALASSO, em A literatura e os deuses, sobre Lautréamont: “Elucubrações de um serial killer”. Li a estrofe de Os cantos de Maldoror sobre a cabeleira de Falmer (“Toda noite”… etc), com o abuso das repetições.
Autor de um texto louco sobre a loucura: CAMPOS DE CARVALHO (1916-1998), em A Lua vem da Ásia. Autora louca, que passou boa parte da vida internada, MAURA LOPES CANÇADO (1929-1993), cujo texto ora é racional, analítico, mas com metáforas estranhas, em O Hospicio é Deus; ora é delirante ou com imagens surrealistas em O sofredor de ver (deveria ser mais lida). A propósito de Maura, o horror manicomial brasileiro.
Autores em que texto e loucura são antagônicos, entidades separadas: o prosador RENATO POMPEU. E especialmente a poeta ORIDES FONTELA (1940-1998), autora de Teia e Alba, entre outras obras. Poesia luminosa, concisa, o oposto da miséria em que vivia – li alguns de seus poemas. Relatei suas loucuras, e seu desapreço por surrealismo e escrita delirante.
Um texto louco, e a loucura como valor literário: ROBERTO PIVA (1937-2010), desde Paranóia (1963). Li trechos e exemplifiquei equívocos da crítica, com “O delírio não cria” de Luis Costa Lima sobre Paranóia, citando como delírio não criativo um trecho – “os banqueiros mandam aos comissários lindas caixas azuis de excrementos secos enquanto um milhão de anjos em cólera gritam nas assembléias de cinza OH cidade de lábios tristes e trêmulos onde encontrar asilo em tua face?” que é evidente paráfrase, de boa qualidade, de O poeta em Nova York de Federico García Lorca, que nunca foi louco mas escreveu algumas obras delirantes.
O encontro de Roberto Piva e Renato Pompeu promovido por Maria Rita Kehl, relatado em http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,ha-metodo-em-sua-loucura,579155,0.htm “Renato, o “verdadeiro” louco, relatou sua experiência manicomial com muita sobriedade e resistiu à sedução do Piva, que tentou o tempo todo levá-lo para seu campo, do elogio à loucura.” programa de rádio de Maria Rita foi repreendido por causa das exteriorizações de Piva.
Haverá uma síntese? Penso que sim, em HILDA HILST (1930-2004) em Amavisse, retomando o desregramento dos sentidos de Rimbaud: “Estendi-me ao lado da loucura/ Porque quis ouvir o vermelho do bronze/ […] Um louco permitiu que eu juntasse a sua luz/ À minha dura noite”. […] “E o que há de ser da minha troca de inventos/ Neste entardecer. E do ouro que sai/ da garganta dos loucos, o que há de ser?” […] “Minha sombra à minha frente desdobrada/ Sombra de sua própria sombra? Sim. Em sonhos via./ Prateado de guizos/ O louco sussurrava um refrão erudito:/ – Ipseidade, senhora. – / E enfeixando energia, cintilando/ Fez de nós dois um único indivíduo”.

O DEBATE AO FINAL: Especialmente importante Flávio Amoreira haver lembrado JOSÉ AGRIPINO DE PAULA, autor louco de obra delirante. E citar ligação de Hilda Hilst com a cidade de Santos.

Palestra sobre Poesia e Loucura no SESC-Santos

Será dia 15 de fevereiro, sábado, às 17 h.

A unidade de Santos do SESC fica à Rua Conselheiro Ribas, 136, próximo à praia, altura do Posto 6, entre o Embaré e Ponta da Praia, me parece – já dei palestras lá, sobre Lautréamont e Geração Beat.

Por favor, avisem aos interessados da região, Santos e Baixada Santista.

Não faltará assunto. Tema imenso, dava curso ou ciclo de palestras. Aceito sugestões. Penso em algo refinado sobre representações da loucura em Campos de Carvalho.

Mas não deixarei de citar André Breton em L’art des fous, la clé des champs: “a arte daqueles que são classificados, hoje em dia, na categoria dos doentes mentais constitui um reservatório de saúde moral.” De Breton também, em Nadja, que, se fosse internado, mataria alguém, de preferência a um dos psiquiatras, para que o deixassem sossegado no isolamento. De Antonin Artaud: “E o que é um autêntico louco? É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada idéia superior de honra humana.”

A seguir, o release / programa preparado pelo coordenador do ciclo de palestras, poeta Flávio Viegas Amoreira:

MENTE & ARTE: SUBJETIVO INFINITO
projeto de discussão sobre criatividade e descaminhos da Alma: Arte e transgressão
dia 15 de fevereiro a partir das 17 horas no SESC SANTOS o convidado é o mestre de gerações de escritores, um dos maiores poetas brasileiros…
o professor, ensaísta e tradutor CLAUDIO WILLER que vai discorrer sobre ´´POESIA E LOUCURA´´ a partir de autores como Nerval, Rimbaud, Lautréamont, Jarry, Artaud até Kerouac, Ginsberg e Burroghs. Um dos maiores especialistas em poetas malditos, outsiders literários, gnose e beat generation
CLAUDIO WILLER é o convidado do curador e apresentando do evento o escritor FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA que comemora abertura das festividades de seu cinquentenário abordando temas caros a tranZmodernidade: qual papel dos poetas em nosso mundo em transe e o poder do delírio criativo em nossa sociedade.
Comemoração do cinquentenário de Flávio Viegas Amoreira
MENTE & ARTE: SUBJETIVO INFINITO
dia 15 de fevereiro a partir 17 horas
Sala 1 SESC SANTOS
POESIA E LOUCURA
convidado CLAUDIO WILLER
mediação FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA
CITY – COMPANHIA INSTÁVEL DE REPERTÓRIO
PERCUTINDO MUNDOS

O concurso de leitura de poesia: saiu o resultado

Gosto de poemas serem os tópicos mais acessados neste blog. Isso de inventar concursos, já fiz em oficinas de criação poética. Postagem anterior teve uns 700 acessos e recebeu excelentes comentários, além do que veio pelo Facebook. Intenção foi mostrar que poemas, mesmo escrito no modo espontâneo, reescrevem. Textos já lidos, a relação é semelhante àquela dos “restos do cotidiano” com o sonho segundo Freud. Mesma coisa que aquele meu poema sobre os corpos, É assim que deve ser feito, escrita automática, mas ao final parafraseei um poema de Ginsberg do qual me havia esquecido.

O ganhador do concurso é o poeta e filósofo Lucas Guimaraens de Belo Horizonte, MG. Receberá, portanto, exemplar de livro meu autografado. Reproduzo o que escreveu e já está nos comentários ao post precedente:

  1. Difícil esta tarefa. Claro que pensei em algumas referências demasiadamente bairristas, por isso não as coloquei na lista abaixo, como é o caso do “Poema Sonhado” de Alphonsus de Guimaraens Filho etc (“Se não for pela poesia, como crer na eternidade?”, verso efetivamente sonhado, balbuciado e copiado por sua mulher). De toda sorte, a lista ficou ora mais direta, ora mais indireta. Pensando bem, alguns pontos não são citações ou alusões mas, sobretudo, referências (ao menos para mim). Vamos lá:

1 – Referência às cores: simbolismo (o lilás…), Rimbaud?
2 – Inexistente casa em frente: a casa abandonada onde reside o Aleph de Borges?
3 – Escrever durante o sonho: Lautréamont? “On ne rêve que lorsque l’on dort. Ce sont des mots comme celui de rêve, néant de la vie, passage terrestre, la préposition peut-être, le trépied désordonné, qui ont infiltré dans vos âmes cette poésie moite des langueurs, pareille à de la pourriture. Passer des mots aux idées, il n’y a qu’un pas.”
(Lautréamont, Poésies – I)
4 – Nunca Mais: Poe e seu O Corvo
5 – “Mergulho” para “rememorar o futuro” e, em seguida, a remissão a Açores: não seria Altazor de Huidobro?
6 – O “ouro do tempo”: André Breton e, mais atualmente, nome do filme espanhol de Xavier Bermúdez, de 2013
7 – Poesia moderna e o sagrado: Piva e tantos outros?

A seguir, as minhas observações:

1. Oximoros, antinomias, paradoxos:

1.1.   “a viagem pela escuridão e suas luzes”

1.2.   “um vozerio de festa na rua, saindo de uma inexistente casa em frente”

1.3.   “mergulho para rememorar o futuro e antever o passado”

1.4.   a própria mudança constante, é o mecanismo do sonho

2. Citações, alusões a outros autores:

2.1.   o título, A verdadeira escrita automática: André Breton, Le méssage automatique,

2.2.   as cores da caneta: viram Rimbaud, alquimia do verbo –não havia pensado nisso, podia ter acrescentado menção a vogais (e consoantes).

2.3.   frase sibilina: Breton, Le lá

2.4.   nunca mais –Poe, é evidente

2.5.   e assim soa a voz da sombra: La bouche d’ombre, Breton e Victor Hugo.

2.6.   a poesia moderna e o sagrado: Jules Monnerot, La poésie moderne et le sacré.

2.7.   ilhas, uns Açores e Baleares: Açores, onde se passam episódios de L’amour fou, O amor louco de Breton.Baleares, …Palma de Mallorca? o que poderia ser? “Tu és ilha”, Jorge de Lima, Invenção de Orfeu.

2.8.   e tudo estará bem: T. S. Eliot, Quatro quartetos, “Burnt Norton”.

2.9.   belo / como umas roupas em um varal ao sol do meio-dia: os “belo como” de Lautréamont, mas inverti, em vez de uma comparação esdrúxula, algo realmente belo.

2.10.   enquanto vamos nos acercando ao ouro do tempo: Breton, a inscrição na lápide dele, “Je cherche l’or du temps”, mas reparem como emenda com o “ouro inteiro” da epígrafe de Helder, tornando o poema circular.