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Autografarei “Estranhas Experiências”

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Quando: dia 7 de dezembro, quarta feira, a partir das 19 h.

Onde: na sede da UBE, União Brasileira de Escritores, , rua Rego Freitas, 454 – Cj. 61, (próximo ao metrô República), São Paulo, fone (11) 3231-3669.

Preço do exemplar: R$ 15,00. Conforme informado neste blog, é aquele final de tiragem do livro de poesia lançado em 2004 pela editora Lamparina. Com 142 páginas, inclui poemas de livros anteriores.

A UBE oferecerá um coquetel. Também haverá exemplares à disposição do meu livro de poesias mais recente, lançado este ano, A verdadeira história do século 20, editora Córrego – o exemplar custa R$ 30,00. Antes de iniciar, direi algo, lerei algum poema, para animar a sessão.

Também pode ser adquirido , frete incluído, na Loplop Livros de Alex Januário, diretamente , ou através da Estante Virtual. Para quem mora no entorno da Zona Oeste de São Paulo, Alex entrega a domicílio. O acesso à Loplop : http://loploplivros.blogspot.com.br/ (basta escrever ou telefonar ou qualquer outro modo de comunicação); tel. (11) 99238-8552 e loploplivros@gmail.com

Selecionei algo do que já escreveram sobre Estranhas experiências. Como podem ver, meu problema não é a falta de fortuna crítica:

“Poesia é o que sempre soubemos/ o conhecimento animal/ um núcleo raivoso anterior à Queda -Gnose”, escreve em “A Palavra” -poema emblemático, no qual o título e o conteúdo, aparentemente metalingüísticos, nos conduzem a uma série de iluminações alquímicas. Lendo “Estranhas Experiências” lado a lado com sua obra pregressa, percebe-se como o trabalho de Willer é homogêneo. Seu “caleidoscópio de plantas vivas em um jardim de espasmos” está em continuidade com o inventário de êxtases contido nos poemas em prosa de “Anotações para um Apocalipse” -e isso também é consistente com uma concepção de literatura que não se define pela busca de um novo repertório de formas.” Manuel da Costa Pinto, Labirinto de Convulsões, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 16/10/2004

“Algo que se destaca a primera vista en la poética de Claudio Willer es esa virginización de lo mirado -fuertemente deudora del surrealismo y el creacionismo- que nos retrotrae a una especie de estadio antes del asombro. Podríamos ser más precisos y decir que en este autor hay una gramática que busca acceder al verbo primero en cuanto lleva implícita una trayectoria y una voluntad axial que es la de ser la recuperación del paraíso y, en su manifestación alfabetaria, interrumpir la caída del hombre, restituyéndolo a su condición de ser elegido. Evidentemente, estamos frente a una dimensión mesiánica -a la vez que dionisíaca- de la escritura.” Martin Palacio Gamboa, em Los trazos de Pandora, coletânea sobre poesia contemporânea brasileira.

“Assim também como Walt Whitman, Willer fala em versos longos e sem medida fixa, na tradição do autor de “Canto a mim mesmo” que afirma um discurso poético marcado de oralidade, sendo considerado por seu caráter andarilho o primeiro beatnik (“Eu canto a mim mesmo” / ”Eu canto o corpo”/”a vida plena de paixão”).” Lucila Nogueira em “Estranhas Experiências: Claudio Willer e a geração beat” http://www.jornaldepoesia.jor.br/ag43willer.htm

Estranhas Experiências é um livro que merece o leitor mais atento. Por ter chegado a verdades simples como: “poesia é o que sempre soubemos”. Por afirmar corajosamente, a cada linha, que “a rebelião romântica, individual, continuará a contribuir para a transformação do mundo”. Em suma, por se tratar de um livro que será eternamente moderno, como outros textos do mesmo autor – de poesia, ensaio e tradução.” Betty Milan em http://www.jornaldepoesia.jor.br/bettymilan.html#willer

“As palavras são o arco-íris do poeta, porque as palavras criam mundos novos e rebeldes, mundos cheios de água viva e refrescante, mundos para olhar com o sorriso das sensações puras e que edificam o sentimento de que vale a pena a grande aventura do desconhecido que a vida encerra.” Teresa Ferrer Passos, em TriploV, http://triplov.com/letras/teresa_ferrer/claudio_willer/index.htm

“A poesia de Willer transmite ao leitor uma sensação de visceral compromisso entre literatura e vivência. Por isso, tão próximo, o sexo. Sentimos a experiência humana, compartilhada através do ritmo destas palavras, vibrando, vivaz, como se ela tivesse ocorrido neste mesmo instante. Willer não precisa documentar a vida para aproximá-la de nós, ele a fecunda pela poesia e, num piscar de olhos, aí está ela, aqui, ao nosso lado.” Christiano Aguiar, “Desmedida Imaginação: sobre a poesia de Claudio Willer”, Crispim – Revista de crítica e criação literária, Editora Universitária da UFPE, N. 1, Recife, 2006 http://www.jornaldepoesia.jor.br/ag54aguiar.htm

“Poucos poetas hoje no Brasil já leram tanto e são tão cultos quanto Claudio Willer, que acaba de lançar o seu quarto livro no gênero, Estranhas experiências e outros poemas, que reúne produções de toda uma vida dedicada à poesia, mais especificamente, e à cultura de um modo geral. Willer chega à idade em que a vida anoitece com a clarividência que lembra a daqueles participantes da guerra civil espanhola que, embora derrotados no campo de batalha, nunca capitularam diante dos poderosos.” Adelto Gonçalves, em “Claudio Willer, ou a poesia em movimento”, Suplemento Das Artes Das Letras de O Primeiro de Janeiro, Porto, Portugal, 25/04/2005; e http://www.jornaldepoesia.jor.br/agon%C3%A7alves2.html

Palestra “Jorge de Lima – Grande poeta misterioso” será reapresentada

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(desta vez, estou ilustrando com reprodução de “fotomontagens” da série “Poesia em pânico” de Jorge de Lima, dedicada a Murilo Mendes)

Motivo: A tempestade que caiu sobre São Paulo na quarta feira, dia 09 de novembro, impediu, junto com a parada de linhas do metrô, a vinda de muitos interessados. Os que conseguiram chegar apreciaram muito. Quem esteve e quiser assistir novamente está dispensado do pagamento. Observo que será e não será a mesma palestra: nunca me repito, e a reflexão decorrente de examinar Jorge de Lima me possibilita refinar interpretações desse poeta tido como “obscuro” (porém Mallarmé também foi apelidado de “o obscuro”), “hermético”, “ininteligível” etc. Para adicionar credibilidade, transcrevo comentário que o poeta Luciano Garcez publicou no Facebook: “Ontem, depois de quase São Paulo se afundar na chuva – ilha que é – ocorreu o necessário curso na sede da UBE: “Jorge Lima – Grande poeta misterioso”, Claudio Willer, com sua sempre metículo/precisão de poeta também misterioso, desvendou aspectos insuspeitos e originais da obra do sinuoso poeta alagoano, linkando-a e desligando-a de exterioridades e estereotiparias: o surrealismo, o catolicismo, Ismael Nery, Fausto, o Trickster, o Barco Bêbado de Arthur…  Fiquem de olho, pode haver outra invenção órfica decodificada- outra vez o curso será dado, pelo que me disse o Bicelli!”

Quando: Dia 23 de novembro, a próxima quarta feira, às 19 h.

Onde: Mesmo local, mesma hora: na UBE, União Brasileira de escritores, rua Rego Freitas, 454 – Cj. 61 (Em tempo: para quem vier de automóvel, há estacionamentos viáveis dos dois lados da entrada do prédio da UBE).

Observem, a seguir, instruções para inscrição e pagamento. Mais informações, ligue para: (11) 3231-3669. Para se inscrever basta enviar seu nome completo para secretaria@ube.org.br. Para efetuar pagamento (R$ 30,00 para associados e R$ 60,00 para não associados), dados bancários para depósito: Conta Corrente: Titular: União Brasileira de Escritores  Agência: 0170 Conta: 21495-1 Banco: Itaú CNPJ da União Brasileira Escritores: 62921937/0001-57 (também são aceitos pagamentos no local e na hora)

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Reproduzo anúncio anterior da palestra:

Há muito tempo pretendia escrever ou dizer algo sobre Jorge de Lima. Influência forte. À admiração somava-se a atração pelos labirintos, pela decifração de enigmas. Comecei a saldar esse débito, instigado pelo poeta Claufe Rodrigues, em União dos Palmares, Alagoas (sua cidade natal), durante a II Semana Jorge de Lima promovida pela Secretaria de Cultura local em abril de 2014, com a palestra “Aproximações a Jorge de Lima: o surrealista”. Em seguida, publiquei artigo na revista digital Agulha. Em setembro de 2015, voltei a ele no ciclo “Pensar o Brasil”, idealizado por Marcelo Marcus Fonseca do Teatro do Incêndio: fixei-me no trecho de Invenção de Orfeu sub-intitulado “O índio interior”. A cada vez, com a impressão de haver mais a ser dito. Por isso, aceitei com satisfação o convite da União Brasileira de Escritores para colaborar com o ciclo de palestras promovido pela entidade, escolhendo-o como tema.

Da programação distribuída pela UBE, incluindo sinopse:

Invenção de Orfeu, obra máxima de Jorge de Lima, é considerada não apenas hermética, porém caótica por alguns críticos. Serão apresentadas tentativas de interpretação, em parte originais, em parte citando a bibliografia existente, além de mostrar qualidades que justificam conferir-lhe especial relevo. Também será focalizado o modo como dialoga com outros poetas, tanto da tradição clássica, como Dante e Camões, quanto os românticos e rebeldes, especialmente Baudelaire e Rimbaud. Outros de seus livros também serão comentados – em especial, os Poemas negros. E ainda será examinado o autor, o próprio Jorge de Lima, como exemplo de integridade, de conduta eticamente elevada.

Do tempo em que havia boas políticas culturais públicas e municípios culturalmente ativos

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Digitalizei fotos de quando presidia a UBE, União Brasileira de Escritores. Esta, de um encontro de escritores realizado em Rio Claro, no ano de 2000; sessão com Lygia Fagundes Telles, no Centro Cultural dessa cidade – auditório grande, comporta centenas de pessoas. O encontro durou um fim de semana e teve várias sessões: Antonio Carlos Fester falou sobre literatura e direitos humanos, Beatriz Azevedo sobre poesia falada, entre outros. Prefeitura de Rio Claro, através de João Baptista Pimentel que dirigia o Centro Cultural, bancou tudo. Profissionalismo: pagaram cachê para todos, R$ 500,00, que corresponderiam a uns R$ 1.200,00 atuais. Como presidia a entidade, dei palestra mas declinei do meu. Fizemos outro encontro semelhante em 2004, em Dois Córregos; prefeitura local também compareceu, nos mesmos termos.
Hoje, temos festas literárias e outros eventos do mesmo teor. Adquiriram prestígio e atraíram patrocinadores particulares. Por outro lado, observo municipalidades que me informam que gostariam de receber escritores, promover palestras, mas não têm condições de pagar um cachê. É retrocesso. Algumas dessas municipalidades promovem shows e pagam cachês elevados: populismo, em alguns casos, corrupção.
Por isso, é bom guardar fotos. Tenho mais.

2012, o ano das trapalhadas em prêmios literários

Reproduzo, a seguir, o ofício da UBE ao presidente da Biblioteca Nacional.

Primeiro, meus comentários:

1. Drummond teria recusado – tomava como princípio não aceitar honrarias literárias.

2. Em 2008, Biblioteca Nacional premiou Estranhos sinais de Saturno de Roberto Piva –mais coerente com o espírito da coisa, e os R$ 8.000,00 do prêmio aliviaram dificuldades que enfrentava.

3. Erros e confusões tomam a frente dos acertos, na divulgação. Esse prêmio para Piva nunca foi noticiado. No Jabuti de 2012, não falaram na premiação de Maria Lúcia Dal Farra em poesia.

4. Concursos literários são simples – basta não complicá-los. Nos dois casos, culpa é dos organizadores – no Jabuti, onde já se viu, isso de dar notas – primeira aula do curso de estatística, ou de pesquisa social, o quanto notas não são confiáveis, sujeitas à variação pessoal.

5. Procedimento em concurso é assim: os três membros da comissão (três – se puserem mais, vai complicar) escolhem seus preferidos, reúnem-se ou comunicam-se até chegar a um consenso (no da Cult de 2001, foram 7 horas de reunião, Wally Salomão, Nelson Ascher e eu, precisou paciência, mas chegamos lá). Não há mistério. Foi assim em dezenas de concursos de que participei como jurado, nos quais já premiamos autores que depois viraram alguma coisa na vida, em concursos de novos (como o Nascentes da USP), ou já eram alguma coisa (como naquele concurso da Cult).                   

                                      Ofício UBE 138/2013

Ao Ilmo. Sr.

Galeno Amorim Júnior

Presidente da Biblioteca Nacional

Av. Rio Branco, 219 – Centro

Rio de Janeiro – RJ 

CEP: 20040-008

 Recurso, apresenta, sobre prêmio literário para 2012

 Senhor presidente:

 A diretoria da UBE – União Brasileira de Escritores, em nome de seus associados e defendendo a adequada interpretação das condições de inscrição ao Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional para 2012, vem interpor recurso ao resultado divulgado por meio de portaria sem número dessa Presidência, do mês de dezembro de 2012, especificamente na categoria poesia, diante da concessão da láurea à publicação “Carlos Drummond de Andrade: Poesia 1930-62”, organizada por Julio Castañon Guimarães e editada pela Cosac Naify. A premiação contraria flagrantemente o determinado no item 2 do edital correspondente, em especial os subitens que destacamos abaixo:

2. Da Inscrição

2.1. Poderão participar do Prêmio pessoas físicas brasileiras ou naturalizadas.

2.2. Somente serão habilitadas obras redigidas em língua portuguesa e publicadas por editoras brasileiras.

2.3. As obras deverão ser inscritas pelo autor, de acordo com as categorias premiadas.

2.3.1. As inscrições por intermédio de editoras serão permitidas como forma de assistência ao autor apenas mediante autorização por escrito deste, que deverá ser anexada à ficha de inscrição.

 Premiar o detentor dos direitos autorais, em vez de premiar o autor, abre perigoso precedente que poderá levar à concentração futura de inscrições em nome de herdeiros e editoras, limitando ainda mais as perspectivas possíveis de reconhecimento a um grande número de autores de qualidade que não por outra via poderiam divulgar seu trabalho autoral.

Rogamos a atenção dessa Presidência para que seja reavaliada a premiação, pelo bem do rigor e da credibilidade dos editais dessa Fundação que V. Sa. tão excelentemente dirige.

Joaquim Maria Botelho

Presidente

Censura a Monteiro Lobato (em 1948)

A Dra. Dirce Lorimier, historiadora, crítica literária e diretora da UBE, pesquisa a história da entidade. Vejam o que ela me mandou, das atas da ABDE, entidade antecessora da UBE, então presidida por Sérgio Buarque de Holanda:

“1948

7 de janeiro: Sergio Milliet solicita à ABDE manifestar-se contra o empastelamento de jornais paulistas, tendo como resultado a decisão de endereçar um telegrama ao Sindicato de Jornalistas e outro ao Sindicato de Diretores e Proprietários de Jornais solidarizando-se com todas as medidas tomadas por esses sindicatos sobre a questão.

Em 12 de fevereiro, Sérgio Buarque de Holanda sugeriu como tema de discussão a apreensão de um livro do escritor Monteiro Lobato pela Polícia do Estado e que a ABDE deveria protestar. Arnaldo Pedroso D´Horta discordou, acrescentado que o protesto fosse feito contra a apreensão de obras literárias em geral. Foi, então, redigido o seguinte texto:

 “A Associação Brasileira de Escritores, Seção São Paulo, fiel a sua própria razão de existência, vem lançar o mais veemente protesto contra as apreensões de livros ultimamente praticadas pela polícia do Estado e que representam um grosseiro atentado à livre expressão de pensamento. Esses atos que contribuem retorno (sic) lamentável das práticas da ditadura derrubada pelo movimento democrático de 29 de outubro de 1945 merecem a mais formal repulsa de todos os escritores.” Era a última reunião dessa gestão que foi encerrada com agradecimentos a Mário Neme.”

1948… Anagrama de 1984… Justifica denunciar retrocesso, diante das mais recentes ocorrências de censura ou das tentativas de reativá-la, através de ações de entidades ou na rede social. Mudaram seus agentes. Mudaram? Ou ampliaram-se suas agências?  Enfim, o documento corrobora o que havia observado nestas postagens sobre o anacronismo desses acontecimentos:

https://claudiowiller.wordpress.com/2012/09/11/monteiro-lobato-censura-e-analfabetismo-funcional/

https://claudiowiller.wordpress.com/2012/09/12/ainda-monteiro-lobato/

https://claudiowiller.wordpress.com/2012/03/22/censura-no-facebook-um-dossie/

https://claudiowiller.wordpress.com/2012/09/17/caso-gravissimo-censura-em-edital-da-funarte-e-biblioteca-nacional/

https://claudiowiller.wordpress.com/2012/09/16/a-censura-na-abl-e-em-outros-lugares/

ETC

AVANÇOS TÊM QUE PERMANECER

Para registro mais amplo, publico meu artigo no último número do jornal O Escritor, da UBE. Mas recomendando a leitura do jornal todo – a página dupla de fotos de novos sócios com aparência feliz está ótima, entre outros conteúdos. E observando que, desde quando entreguei o artigo (há um mês), houve novidades. Uma, positiva: censura no Facebook parece ter refluído, diante da ameaça de um escândalo e um protesto mais vigoroso. Outra, grotesca: a suspensão da circulação da biografia de Lampião, sustentando que o cangaceiro era gay, sob alegação de ofensa à sua reputação. Sobre isso, ainda publicarei as devidas ironias.

Há 50 anos, aproximadamente, foi liberada a circulação nos Estados Unidos de Henry Miller, D. H. Lawrence e James Joyce, até então barrados por obscenidade.

Há pouco mais de 23 anos, no final de 1988, foi aprovada nossa Constituição, pela qual “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” (art. 5º), sendo “vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística” (art. 220).

50 anos, 23 anos: isso é muito ou pouco tempo? Uma enormidade, uma considerável extensão no plano da biografia e da memória individual. Uma fração, mínimo lapso, nada, para os que reincidem e persistem em praticar a censura. Tais recaídas já foram comentadas por mim neste O Escritor, a propósito da censura judicial, impedindo a circulação de biografias, em uma prática energicamente repudiada em nosso recente Congresso de Escritores.

Por isso, venho repetindo que censores podem estar quietos, mas não dormem; que sempre há alguém tentando fazer que a censura retorne pela porta dos fundos.

Dois episódios recentes, já examinados em meu blog, https://claudiowiller.wordpress.com , corroboram e justificam minha preocupação. Um deles, a ação movida contra acepções do vocábulo “cigano” em dicionários. Conforme amplamente noticiado, o Ministério Público Federal entrou com ação na Justiça Federal em Uberlândia (MG) para tirar de circulação o dicionário Houaiss: segundo seus autores, conteria expressões “pejorativas e preconceituosas”, praticaria racismo contra os ciganos e não atendeu às recomendações de alterar o texto, como fizeram outras duas editoras com seus dicionários.

O policiamento do vocabulário tem um nome: expurgo. A grotesca censura a dicionários recebeu críticas de todo o lado. Ainda assim, não posso deixar de lamentar que as outras duas editoras, cujos dicionários também foram objeto desse patrulhamento, tivessem cedido e retirado as acepções tidas como pejorativas. Covardes. Cúmplices da censura. Deveriam ter resistido. Assim, em alguma instância, um juiz ou tribunal bafejado pelo bom senso poria cobro ao absurdo, estabelecendo jurisprudência e inibindo a repetição dessa loucura.

Outro sintoma de recaída vem acontecendo na rede social, o Facebook, que emprega “moderadores de conteúdo” para retirar imagens e textos supostamente ofensivos. Como se não bastasse, ainda são enviadas advertências de violação dos “padrões da comunidade” do Facebook, além de bloqueios temporários das páginas de infratores.

Tais padrões supostamente comunitários da rede social não podem, é evidente, sobrepor-se à legislação brasileira. Impedir disseminação da violência, preconceito, ódio, é perfeitamente admissível. Mas, confirmando a regra de que toda censura é obtusa, houve interferência em páginas de usuários resultando na supressão de reproduções de obras dos surrealistas Paul Delvaux e Salvador Dali, entre outras: todas livremente expostas em museus e acessíveis através do Google e outras ferramentas de busca.

Por enquanto, usuários decidiram protestar, multiplicando a exibição e circulação de tais imagens, assim desorientando censores, inviabilizando seu trabalho. Outras medidas, inclusive judiciais, além de protestos públicos, serão tomadas. Nem que seja para mostrar que em nossa cultura o tempo é progressivo e irreversível; que avanços não retroagem – desde que estejamos dispostos a defendê-los.

Eleições na UBE

A seguir, informe da eleição de nova diretoria e conselho da UBE, dia 12, próxima terça-feira.

Terminada a eleição, a nova diretoria convida a todos para uma breve solenidade de posse, seguida de coquetel. Será no auditório da Academia Paulista de Letras, Largo do Arouche 312, a partir das 20h30min (a eleição, na sede da UBE, vai até as 20h00min).

Venham.

Em tempo: Penso que essas recaídas recentes da censura, mais os problemas que já classifiquei como ‘miserabilismo cultural’ – os cortes de verbas para a cultura, p. ex. editais cacelados na área federal – justificam mais presença de escritores na UBE.

 Eleição da Diretoria e Conselho Consultivo e Fiscal da UBE

A União Brasileira de Escritores apresenta a chapa única registrada para as eleições de 13 de março de 2012

De conformidade com os Artigos 36 e incisos, Artigo 37, incisos Ie II e Artigo 38 e seu parágrafo único, dos Estatutos, o Presidente da UBE convoca uma assembleia Geral Ordinária dos associados para o próximo dia 13 de março de 2012, às 9 horas em primeira convocação, e uma hora depois em segunda, na sede da entidade à Rua Rego Freitas, 454, cj 121, 12º andar, nesta Capital, prolongando-se até as 20 horas, para examinar e votar o relatório e as contas da administração do presente mandato e eleger a Diretoria Executiva e o Conselho Consultivo e Fiscal, em escrutínio secreto para o próximo biênio.  A nova Diretoria, que comandará os destinos da UBE para o biênio março 2012/março 2014, terá posse imediata, cumprindo os Estatutos. Apenas uma chapa foi registrada. Os sócios da Capital votarão na sede no horário acima e os do Interior e outros Estados por correspondência normal. A secretaria está providenciando o envio das cédulas de votação aos associados do interior e outros Estados. Só poderá votar o associado em dia com a tesouraria da entidade.

 CHAPA NOVA -UBE

Presidente – Joaquim Maria Botelho; 1º Vice-presidente: Luís Avelima; 2º Vice-presidente, Menalton Braff; Secretário-geral, Gabriel Kwak;  1º secretário, Sueli Carlos; 2º secretário, Francisco Moura Campos;Tesoureiro geral, Djalma Allegro; 1º tesoureiro, Nicodemos Sena; 2º tesoureiro, Helena Bonito Pereira.

Diretores: Claudio Willer, Fábio Lucas, Beth Vidigal, Carlos Knapp, José Domingos Brito, Raquel Naveira, Antonio Luceni, Giselda di Guglielmo,  Dirce Lorimier Fernandes, José Geraldo Neres.

Conselho Consultivo e Fiscal: Anna Maria Martins, Jorge da Cunha Lima, Renata Pallottini, Lygia Fagundes Telles, Caio Porfirio Carneiro, Audálio Dantas, Levi Bucalem Ferrari, Paulo Oliver, Almino Afonso e José Afonso da Silva.

Manifesto de Escritores

A seguir, documento final do Congresso de Escritores realizado em novembro de 2011 pela UBE, do qual tive a satisfação de participar, expondo em sessão plenária sobre direitos autorais, coordenando mesa sobre políticas culturais, e apresentando propostas para redação final. Diria que andamento desse congresso ultrapassou minha expectativa – com mínimos recursos e bastante disposição, tudo correu muito bem. Escritores compareceram, intervieram, participaram. Ambiente muito agradável.

 

 

MANIFESTO DOS ESCRITORES BRASILEIROS

CONGRESSO BRASILEIRO DE ESCRITORES DE 2011

 

A UBE, União Brasileira de Escritores, ao término do CONGRESSO BRASILEIRO DE ESCRITORES DE 2011, realizado em Ribeirão Preto, São Paulo, de 12 a 15 de novembro de 2011, com a presença, durante quatro dias, de centenas de escritores, em um grau de mobilização e participação inédito em décadas, apresenta seu documento final, com propostas aprovadas em plenário. Por meio dele, os escritores brasileiros reafirmam o compromisso de trabalhar junto a seus pares, ao governo e à sociedade, para que a arte possa ser construída com liberdade e qualidade, de modo a constituir legado significativo para o futuro; e reafirmam seu compromisso incondicional com a democracia e a liberdade de expressão, valores que determinaram a criação da UBE. Por isso,

  1. Protestam contra modalidades de censura ainda em vigor, como as restrições a biografias e outras pesquisas a pretexto de defender sucessores ou pesquisados, resultando em censura judicial; declaram que lutarão para impedir o cerceamento à liberdade criadora do escritor, especialmente aquele originado de iniciativas de herdeiros ou proprietários de direitos autorais para impedir a circulação de obras;
  2. Sustentam, como premissa, que o governo brasileiro proponha e defenda uma política cultural nacional, equilibrada, justa, democrática e aberta, da qual o Estado participe como facilitador, e não como mentor, exigindo a defesa, incentivo e proteção de toda criação artística, pautada pelo respeito ao direito autoral, à liberdade de expressão, à busca de ampla divulgação e publicidade, em atendimento aos preceitos do desenvolvimento cultural de um país: educação, cidadania, democracia, igualdade, liberdade, diversidade, direitos humanos e preservação do acervo e do patrimônio cultural, estético, artístico e ecológico do país;
  3. Entendem ser prioridade a defesa intransigente da qualidade da educação no Brasil, esperando do Estado os investimentos necessários à qualificação e ao aprimoramento dos professores e à manutenção de escolas e equipamentos; em especial, que seja resgatado o ensino da literatura nas escolas, com atenção ao conteúdo e valor, tanto pedagógico quanto artístico, das obras adotadas para leitura e exame, com ênfase para a produção nacional;
  4. Declaram imprescindível a ampliação dos programas em curso, especialmente de órgãos do Ministério da Cultura, para estimular a leitura e promover a difusão da literatura brasileira, assim enfrentando o dramático descompasso em nosso País de índices de leitura de livros e, correlatamente, do alarmante analfabetismo funcional;
  5. Requerem, igualmente, por parte dos órgãos públicos, consistência e regularidade nos programas de difusão da literatura brasileira no Exterior, apoiando traduções de obras, mostras e apresentações de autores, a exemplo do que é feito, rotineiramente, pelos governos de outros países;
  6. Esperam esforços equivalentes das administrações estaduais e municipais, para que desenvolvam políticas culturais em consonância com esse esforço; especialmente, ao manterem e equiparem bibliotecas públicas e programas de promoção da literatura e incentivo à leitura, e pela boa divulgação da produção nacional em seus equipamentos culturais e meios de comunicação;
  7. Como tópicos da defesa dos direitos do autor:

7.1.   Repudiam frontalmente programas de difusão de livros e incentivo à leitura, especialmente na área educacional, que exijam a renúncia a direitos autorais e de edição.

7.2.   Declaram inadmissível qualquer equiparação da tradução literária ou qualquer escrita criativa à prestação de serviços, obliterando ou suprimindo direitos autorais;

7.3.   Exigem maior transparência nas prestações de contas a autores por parte de editores; por isso, propõem, como tópico da lei de direitos autorais ora em exame, a inserção de informe da tiragem pela gráfica nas edições em maior escala; e, naquelas em impressão digital ou nos livros por encomenda, que as editoras numerem cada exemplar; e que, em livros eletrônicos ou quaisquer edições no meio digital, seja garantido ao autor o conhecimento a qualquer tempo da quantidade de exemplares adquiridos por esse meio; e, ainda, que seja assegurado, nas compras de grandes quantidades de livros por órgãos públicos – MEC, MinC etc –, a comprovação pelo editor de que o titular de direitos autorais foi informado da compra;

  1. Lutarão pelo fim dos privilégios no fomento à produção artística; pela reestruturação do Fundo Nacional de Cultura, de modo que esse receba recursos originados de imposto de renda devido pelas empresas, a serem destinados a projetos aprovados por um conselho de representantes da sociedade civil que analisarão projetos a serem financiados por leis de incentivos, assim retirando das empresas patrocinadoras o poder decisório sobre a destinação final de tais recursos;
  2. Solicitam dos meios de comunicação, concessionários que são, atenção à produção artística nacional e às demandas dos seus produtores, por meio da instalação de um Conselho Nacional de Comunicação que tenha maioria de membros indicados por organizações da sociedade civil;
  3. Tendo tido a honra de entregar o Prêmio Juca Pato – Intelectual do Ano, ao final do Congresso, ao professor Aziz Nacib Ab’Sáber, associam-se às causas sustentadas por esse notável ambientalista em defesa do meio ambiente e da própria continuidade da vida em nosso planeta.

Manifesto votado e aprovado em Ribeirão Preto, no dia 15 de novembro, dia da República, do ano de 2011

Sobre o congresso de escritores

A seguir, link de acesso ao texto de A. P. Quartim de Moraes publicado na pg. 2 de O Estado de S. Paulo de hoje, 26/11/2011, sobre o recente Congresso de Escritores, já veiculado aqui, e do qual  participou:

http://m.estadao.com.br/noticias/geral,escritores-a-hora-da-uniao,803269.htm

Quartim, editor experiente (fez um excelente trabalho à frente da editora do SENAC),  abre discussão. Critica aqueles escritores “que preferem se isolar na zona de conforto” e “tendem a ignorar a realidade perversa que os cerca”. Talvez generalize. Nem todo ausente de iniciativas corporativas é um perseguidor de glórias. Mas, mesmo sendo assim no mundo todo –  reivindicações específicas despertam menos interesse da mídia e mobilizam menos do que os eventos com finalidade puramejnte comercial -, seria bom se mais colegas se envolvessem no debate de assuntos de evidente interesse . Entre eles, os necessários avanços na defesa de direitos autorais e em boas políticas públicas em favor do livro e literatura. E, é claro, da melhora da qualidade do ensino. Nesses campos, algo já foi feito; houve progresso, ultimamente; mas tudo ainda pode (e deve) avançar muito. Quem ganha com isso somos nós, autores; e a sociedade como um todo.

Em tempo: convergente com algo do que diz Quartim, já havia saído o artigo de outro dos participantes, Deonísio da Silva, em:

 http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_midia_ausente