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Surrealismo prossegue

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Este post, só para ficar registrada a bela foto de minha palestra de surrealismo de segunda feira passada, dia 8, na Cia. Corpos Nômades. Valoriza / destaca as obras que comentei. Feita por João Andreazzi – como podem ver, talentoso fotógrafo e não só encenador / criador teatral.

Segunda feira próxima tem mais (outras infos nos posts precedentes aqui).

Falando sobre surrealismo

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Ontem à noite – segunda feira, 01/10 – fotografado por João Andreazzi nos Corpos Nômades. Meu tema, origens do surrealismo. Ao fundo, o “douanier” (aduaneiro) Rousseau. Conforme Roger Shattuck em The Banquet Years (é o texto que está na minha mão, na edição francesa, Les Primitifs d’Avant-Garde) Rousseau nunca foi aduaneiro, trabalhou como guarda da alfândega, “gabelou”, passando em seguida a viver de tocar violino nas ruas para recolher uns trocados e da venda de seus quadros a preços irrisórios (ninguém o levava a sério, até ser descoberto por Alfred Jarry e divulgado por Apollinaire). Examinei também  “Art Brut” e artistas loucos – Adolf Wölfly, que não conheciam, impressionou.

Na próxima sessão, tratarei de surrealismo e antropologia (e mitos, evidentemente). Meu ponto de partida,  esta observação de Jacqueline Chénieux-Gendron em “Il y aura une fois”: “Uma das formas de surrealismo é a etnografia”.  Falarei sobre mitos. E sobre surrealismo e conhecimento. Pierre Mabille estará presente. VENHAM.

Mais no post precedente neste blog.

 

Claudio Willer sobre o Acaso Objetivo: Poesia & Vida

Acaso objetivo - set 2018

(Gostei da colagem que o organizador, Matheus Chiaratti, fez comigo – adotei)
(Haverá livros meus – Estranhas experiências e A verdadeira história do século 20 – autografarei) (A palestra servirá como “esquenta” de um curso de surrealismo que apresentarei nos Corpos Nômades, a ser divulgado em breve)

Quando: Quinta-feira, 27 de setembro de 2018 de 19:00 a 21:30

Onde: Tapera Taperá, Av. São Luis, 187, 2º andar, loja 29 – Galeria Metropole, 01046-001  
Informa o organizador: Arte_Passagem e Tapera Taperá convidam o público a participar da mesa com o poeta Claudio Willer sobre a experiência do “acaso objetivo” na prática poética. A mesa ocorrerá em ocasião da abertura da intervenção artística Hotel Esfinge do artista Matheus Chiaratti para o arte_passagem.
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Claudio Willer (São Paulo, 1940) é poeta, ensaísta, tradutor, pesquisador do “acaso objetivo” na obra do surrealista André Breton, e publicou o ensaio “Magia, Poesia e Realidade: O Acaso Objetivo em André Breton”, disponível para leitura neste link: goo.gl/yZnJ1J
É a partir da herança da flânerie de Baudelaire na produção surrealista e suas reverberações na geração dos poetas brasileiros dos anos de 1960 que o artista encontra na cidade um campo fértil para suas deambulações, criando com ela uma disposição ao mistério e ao eventual, em que “sob os impulsos complementares do acaso e da sua imaginação, [o poeta ou o artista] procura melhor definir sua própria identidade, interrogando os diversos ‘enigmas’ encontrados – objetos, situações ou seres”. Nadja(1928), obra seminal de André Breton, será o ponto de partida para a nossa discussão.
A atualidade do “acaso objetivo” na produção artística é urgente. Encarar a cidade como um campo rico de embate, terreno fértil de história e de pensamento – ainda mais em tempos de gentrificação e de incêndios – é se integrar a ela como espectador ativo, dono de seu próprio percurso e atento aos símbolos que a cidade disponibiliza.
Uma passagem de Nadja, exaltada no prefácio de Eliane Robert Moraes da edição da Cosac Naify, conduz o pensamento para os mistérios do percurso: “Não sei por que é para lá, de fato, que meus passos me levam, que vou para lá quase sempre sem objetivo determinado, sem nada decisivo a não ser esse dado obscuro de saber que ali vai acontecer isto”.
 

 

A propósito da exposição “Frida Kahlo – Conexões entre mulheres surrealistas no México” no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo

Claudio Willer

Frida fotografada por Lola Alvarez Bravo_1942_lg

Encerrou-se a 10 de janeiro de 2016 com 600.000 visitantes, recorde de público. Resultado depõe a favor da mostra, do público, de Frida Kahlo, do conjunto de obras apresentadas, da curadoria de Teresa Darcq, da instituição promotora, da equipe que trabalhou no projeto. Permanece o catálogo: além das reproduções espetaculares, ninguém poderá reclamar da falta de informação, contextualização e bom apoio crítico. É anunciado que a mostra irá para o Rio de Janeiro, através da Caixa Econômica Federal.

E assim o surrealismo se expande entre nós, ao mostrar não só Frida, porém artistas como Leonora Carrington, também escritora, e Remedios Varo, ambas da minha especial predileção. Além de trazer novidades, criadoras de qualidade, porém menos célebres: Alice Rahon, Bona Tinterelli de Pisis, Bridget Tichenor ou Sylvia Fein. Isso, lembrando que o mesmo Instituto Tomie Ohtake já nos havia proporcionado Miró e mais Dali, além de mostras importantes por outras instituições. Que sua presença também se amplie no modo impresso, através de obras importantes ainda inéditas no Brasil (pobreza editorial, se compararmos com o que se encontra em Portugal) ou publicadas, porém confinadas a editoras sem distribuição comercial.

Organizei duas “visites guidées” à exposição, uma para os participantes do meu curso de surrealismo na Unicamp e outra, em vista do interesse suscitado, para os que haviam feito cursos anteriores de surrealismo comigo. Não chamei mais interessados por causa da limitação do número, grupos não poderiam ultrapassar 20 pessoas. O que vem a seguir é inspirado nas duas visitas, além do que disse naquelas ocasiões, complementando a competente monitoria.

André Breton, Diego Rivera, Leon Trotsky, Jacqueline Lamba

ANDRÉ BRETON, SURREALISTAS E AS VOLTAS QUE A HISTÓRIA DÁ: Hoje, Frida Kahlo é a artista mexicana mais valorizada, estudada e comentada. Tornou-se ícone. É pop. Saiu do Instituto Tomie Ohtake mas continua em pôsteres, alguns bem toscos, vendidos por camelôs-artesões da Avenida Paulista. Umas décadas atrás não se falava nela. Arte mexicana do século 20 eram os grandes muralistas: Diego Rivera em primeira instância, David Alfaro Siqueiros e Jose Clemente Orozco, além do pintor Rufino Tamayo. Quem se maravilhou com os quadros de Frida foi Breton. Conheceu-a na viagem ao México de 1938, quando encontrou Trotsky e Rivera. Encaminhou-a à galeria Julien Levy em Nova York, escreveu a apresentação da mostra, e depois à exposição Mexique em Paris. Rivera jamais moveu um dedo para divulgá-la. Sabemos, contudo, que Frida não se considerava surrealista. Declarou que sua arte retratava sofrimentos que nada tinham a ver com inconsciente e sonhos. Observei em outras ocasiões que o episódio mostra como Breton se pautava pelo valor: não estava interessado em angariar adeptos (despachou inúmeros), mas em mostrar o que tivesse qualidade – mesma atitude identificável no modo como elogiou e divulgou, entre outros, Aimé Césaire, Magloire de Saint’Aude ou Malcolm de Chazal.

Frida Kahlo, Diego en mi pensamiento

MULHERES. “Por que só mulheres?”, foi-me perguntado em uma das visitas. Ao focalizar mulheres, exclusivamente, e relações entre elas, a exposição traz algo simultaneamente moderno e arcaico. Moderno porque a presença forte das mulheres nas artes visuais, na literatura, em outros campos da criação, é historicamente recente, foi crescendo ao longo do século 20. Nossa sociedade já foi mais patriarcal: basta verificar quantas mulheres participaram do romantismo como protagonistas, não como musas (Madame de Stael? Marceline Desbordes-Valmore? quantas outras?). Ou do impressionismo, do simbolismo. Dentre os movimentos de vanguarda, um deles teve uma mulher à frente, o grupo de Bloomsbury com Virginia Woolf; e houve uma impulsionadora das vanguardas, Gertrude Stein. Quantas mais? Conta-se nos dedos. Maior número de mulheres atuando, publicando, observei isso em nossa geração Novíssimos, já em 1960. Mas houve confrarias de mulheres em sociedades tradicionais. Mircea Eliade, por exemplo, trata das “sociedades de mulheres” em povos africanos com rituais de iniciação e linguajar próprios, em ‘Initiation, rites, societés secrètes’. Entre nossos Carajás, assim como em outros povos, a separação de sexos chega ao ponto de haver duas línguas, dos homens e das mulheres. Ocupou um lugar central da exposição o quadro de Frida “Diego em mi pensamiento”, um dos autorretratos, no qual se apresenta em um traje cerimonial zapoteca, a tehuana: um símbolo de matriarcado. Maria Izquierdo é mostrada ou se mostra, em outro autorretrato, como “rainha vermelha” dos maias. Sabiam que estavam evocando ou revivendo tradições. E colocando-as em prática ao se apoiarem, colaborarem umas com as outras. E a mostra informa como Frida foi ativa; como se empenhou em favor de tantas artistas.

1 2  maria izquierdo O altar das tristezas (1943)

MARIA IZQUIERDO. Gostei da inclusão dela. Surrealistas não a examinaram. Por excesso de iconografia católica? Quem escreveu sobre ela e a indicou para uma exposição em Paris foi Antonin Artaud, em sua viagem ao México de 1936. Disse que a cruz cristã nas obras dela se transformava na cruz simétrica de tradições pré-colombianas. Também elogiou outro artista mexicano, Ortiz Monasterio. Observei em outra ocasião, nesses dois artistas, o tratamento dado ao corpo; ou melhor, aos corpos, decapitados, esquartejados. Destruir o corpo para refazê-lo, obsessão de Artaud, desde impressionar-se com Heliogábalo esquartejado e as castrações promovidas pelo tresloucado imperador até o “corpo sem órgãos” dos escritos finais. A exposição informa o papel desempenhado por Maria Izquierdo nessa confraria ou sociedade de mulheres. Foi precursora. Nascida em 1902, uniu tradição e modernidade, evocou o México arcaico e assimilou a arte européia contemporânea. Defendeu direitos da mulher; expôs outras artistas; foi boicotada, teve a encomenda de um mural cancelada por pressão machista de Rivera e Siqueiros: achavam que só homens podiam fazer obras de grande porte, um episódio vergonhoso – o oposto da atuação não só de Breton, mas de outros surrealistas, Duchamp, Benjamin Péret e Wolfgang Paalen, não expostos, porém devidamente mencionados.

Remedios Varo Minotauro

CABEÇAS E CORPOS: Séries de autorretratos, especialmente de Frida, bem comentados nos textos do catálogo, interpretados como afirmação ou questionamento da identidade. E corpos, vários esquartejados, decapitados, desmontados e remontados. Já tratei do assunto em palestras e cursos, projetando o que diz Octavio Paz em ‘Conjunções e disjunções’ sobre a “dialética da cara e do cu”, o antagonismo de mente e corpo, símbolos e coisas; e Eliane Robert Moraes em O corpo impossível, ao sustentar que os acéfalos e figuras humanas com cabeças de animais, em Bataille e no surrealismo, a exemplo de minotauros e dos “abraxas” gnósticos, são ataques ao “cogito” cartesiano, proclamações da morte de Deus. Minha adição a essas referências bibliográficas consiste em trazer Artaud, radical nessa questão; e, agora, esse desfile de variações sobre o tema, a tensão entre mente e corpo. Especialmente geniais são duas telas de Remedios Varo, seu minotauro e a “Mulher saindo do psicanalista” com suas múltiplas caras, bem como as “Três mulheres com corvos” de Leonora Carrington.

Traje de Tehuana

ARTE TOTAL. Além das telas, há esculturas, colagens, montagens de objetos, muita fotografia, cenografias, esboços e rascunhos. Um arco que vai da gastronomia à dança, passando pela fotografia, com Rosa Rolanda; uma coleção de vestuários, criados ou trazidos para as obras. Frida não apenas pintava e desenhava, mas vestia-se, assim como também Maria Izquierdo, simbolizando a identidade da obra e do artista. O propósito das vanguardas, de romper barreiras entre gêneros, modalidades ou sistemas de signos foi acentuado pelo surrealismo, com especial atenção aos objetos encontrados. É como se Duchamp, ausente nas paredes da mostra porém mencionado por sua atuação, estivesse nos bastidores, figura tutelar. A multiplicidade de meios é acentuada pela projeção de vídeos em outra sala.

Leonora Carrington

ARTE E VIDA. Quer dizer que Jacqueline Lamba, musa de Breton em O amor louco e sua esposa até 1944, e cujas obras expostas mostram que foi uma bela artista, teve um relacionamento amoroso com Frida? Isso, eu não sabia. Entre outras relações: amorosas, de colaboração ou solidariedade, de trabalho criativo, reveladas na mostra e no catálogo, rico em informação biográfica. Sempre me insurgi contra o vezo burocrático do “recorte”, de isolar obra e vida do seu autor, partilhado por formalistas e deterministas. O contrário do que defendiam Breton e demais surrealistas: jamais separar; buscar a unidade, a síntese, a superação das antinomias. A mostra ‘Frida Kahlo – Conexões entre mulheres surrealistas’ é legitimamente surrealista ao trazer vidas, personagens que se confundiram com obras, e não apenas os resultados do trabalho criativo. No título, a ênfase deve ser posta em “conexões”, nessa cartografia que confere mais sentido á criação. Cito com freqüência a observação de Floriano Martins, em suas antologias de surrealismo latino-americano, sobre o caráter coletivo como fundamento ou algo essencial no surrealismo. Ou, de Octavio Paz: “A atividade surrealista foi coletiva e individual”. E, é claro, “a poesia deve ser feita por todos, não por um” de Lautréamont – aqui, transposto para o campo da criação visual, ou de todas as modalidades criativas.

Alice Rahon

MULTICULTURALISMO, DIVERSIDADE CULTURAL O OUTRO: Sim, “México, país surrealista”. Mas justamente por não haver apenas o México, como delimitação política e geográfica, porém vários México. País assentado na memória e vestígios de uma diversidade de povos, desde as civilizações complexas, os impérios Maia e Asteca, além dos precedentes e remanescentes Tloltecas, Olmecas, Zapotecas, até as sociedades tribais, os Taraumara, Iaqui, Pueblos. Ambiente para receber uma diversidade de visitantes e refugiados, como a espanhola Remedios Varo, a inglesa Leonora Carrington, esoterista e cultora de tradições célticas, várias francesas, além de uma alemã, uma suíça, uma húngara. Ainda elaborarei algo sobre essa dialética de identidades e diversidades de origens.

 

O VALOR DE FRIDA: A explosão Frida, agora pop, onipresente, suscita a questão: até que ponto seu prestígio é modismo passageiro, reflexo de um drama pessoal, de uma vida de sofrimento? Ou ela veio definitivamente para ficar? A exposição dá a resposta: em meio a artistas grandes – Leonora Carrington e Remedios Varo sempre me fascinarão de modo especial – a obra de Frida brilha. Teve uma personalidade própria, fortíssima. Soube expressá-la através de sua arte, e também, como revela essa exposição, por sua presença, por sua íntegra atuação pessoal.

Contra o uso impróprio, abusivo e cretino das expressões “surreal” e “surrealista” e das qualificações do Brasil como país “surreal” e “surrealista”

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Volto ao assunto inspirado pela capa da Isto É da semana passada, tratando das peripécias que levaram o ainda senador Delcídio Amaral a ser preso. Virou cacoete: toda vez que acontece algo grotesco, distópico, acham “surreal”. Já me havia manifestado a respeito: https://claudiowiller.wordpress.com/2014/02/02/surrealismo-no-brasil/ . Sou obrigado a insistir: surrealismo é pensamento utópico. “Um movimento de liberação total, não uma escola poética”, como observou Octavio Paz. Método para a exploração do desconhecido, como o caracterizou Alexandrian.

“Brasil, país surrealista”? Antes fosse. Realizaria o lema bretoniano: Amor, Poesia e Liberdade.

A demagogia, o oportunismo, a inépcia, a pilantragem, a esculhambação, a baixaria, a corrupção na política e fora dela, a luta pelo poder e manutenção de privilégios a qualquer preço não são surrealistas. O baixo populismo não é surrealista. A hipocrisia não é surrealista. A mediocridade nunca é surrealista. O mau gosto pode ou não ser surrealista (Breton achava que poderia, e antes dele Rimbaud também viu poesia no mau gosto – mas sob condições muito específicas, penso), embora o bom gosto dificilmente alcance o surrealismo. A burocracia pode ser kafkiana, como em O processo, mas não é e jamais será surrealista. O sectarismo fanático pode chegar a ser dostoievskiano, como em Os demônios, mas não é surrealista. A violência raramente é surrealista, apesar da recomendação bretoniana de pegar um revólver e sair atirando pela rua como ato surrealista mais elementar, e do tratamento que lhe foi dado por Sade e Lautréamont.

Governantes ineptos, federais, estaduais e municipais, nada têm de surrealista, emb0ra possam inspirar realismos fantásticos. A especulação imobiliária não é surrealista. O planejamento urbano regido pela especulação imobiliária tampouco é surrealista. As atuais desgraças coletivas não são surrealistas: nossos apocalipses são patéticos. A degradação ambiental não é surrealista. A lama no Rio Doce não é surrealista; a proliferação dos desastres e a irresponsabilidade das autoridades e dirigentes empresariais que acarretam isso não são surrealistas. Desperdício, sujeira por tudo que é canto, poluição desenfreada, não são surrealistas. Epidemias de dengue e doenças ainda piores não são surrealistas. As ineptas concessionárias de telecomunicações que nos atazanam com tarifas exageradas e péssimos serviços não são surrealistas. Os espantosos serviços brasileiros de saúde pública e o escorchante atendimento privado não são surrealistas. Editores – alguns, publicando obras valiosas sob o ponto de vista surrealista – encerrarem atividades reclamando de livreiros e falta de políticas públicas em favor do livro, decididamente, isso não é surrealismo. Analfabetismo funcional não é surrealista. Chavões não são surrealistas – especialmente o chavão de designar escândalos brasileiros como surrealistas.

O surrealismo no Brasil está em outros lugares. Nas comunidades indígenas não contaminadas, ainda intocadas, que vivem em seu mundo mágico. Em ruínas que afloram inesperadamente; em anacronismos que podem surpreender. Em alguns cultos sincréticos que resistem à hostilidade dos fundamentalistas. No meio da natureza, inclusive aquela que inesperadamente invade o ambiente urbano. Entre marginais visionários; entre alguns artistas criadores em artes visuais, poesia e prosa, cinema, dança, teatro, música, multimeios etc, por vezes pouco reconhecidos, à margem. Em alguns ensaios e artigos mais instigantes. Nas mostras de artistas surrealistas nas quais muito mais gente aprenderia algo, se as visitasse. Encontra-se surrealismo em bons vídeos – obra toda de Buñuel está disponível e Limite de Mário Peixoto está sendo lançado – ou em algum programa de TV que contrasta com centenas de produções medíocres ou horrorosas passando no mesmo horário. Em bons livros que circulam quase secretamente. Amanhã às 16h40. Nos encontros em que se dialoga. O surrealismo está em amantes que têm líricos momentos de enlevo e gozo. Nas manifestações de generosidade autêntica. Na entrega à poesia e ao poético.

Saber enxergar o que se passa é surrealismo. A lucidez é surrealista. A crítica sem concessões ao que está aí é surrealista. Difundir surrealismo como se deve, promovendo a leitura de bons autores surrealistas, isso é ação surrealista. E imprecar quando nos chamam de “país surrealista”. A última grande exposição internacional surrealista, de 1965, chamou-se L’écart absolu – o afastamento ou ruptura absoluta. O texto de Breton apresentando a exposição permite interpretar o vocábulo, de muitos sentidos, como quebra absoluta de paradigmas. A realidade presente convida a tal afastamento, quebra, ruptura; e aos subseqüentes encontros e descobertas, bem longe daqui, logo aqui ao lado.

SERÁ ÀS 17H30 A NOVA PALESTRA: “SURREALISMO, O ESPECTADOR ALUCINADO”

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QUANDO: dia 29 de novembro, domingo, das 17h30 h. até as 19h00 (antes estava 19h30 – errado)

ONDE: CIA. CORPOS NÔMADES – Espaço Cênico O Lugar, Rua Augusta, 325 – Consolação, São Paulo – SP, 01305-000, Telefone:(11) 3237-3224

O QUE VAI SER: Complementando outros cursos e palestras recentes, inclusive a oficina “Surrealismo Uma Poética da Alucinação” que ocorreu durante o mês de abril no mesmo local, tratarei do corpo: das representações de corpos no surrealismo e por autores que podem ser ligados a esse movimento. E também das expressões poéticas. Relacionarei ambos, corpos e poemas, valendo-me dos recursos possibilitados pela projeção de imagens usando o datashow. Valorizarei mulheres que se expressaram desse modo. Pretendo dizer algo, também, sobre surrealismo no Brasil.

Haverá minotauros, bonecas, acéfalos, máscaras, colagens, montagens, transformações múltiplas. Como eu sou fetichista, estou ilustrando com a fotografia de Catherine Deneuve, protagonista, entre outros filmes notáveis, de A bela da tarde de Luis Buñuel, feita por Man Ray, artista da minha especial admiração. Oportunamente, poderemos consagrar palestra especificamente a Buñuel; e outra a Man Ray.

Venham. Agradeço divulgação.

Minha palestra completará a oitava edição da MOSTRA LUGAR NÔMADES DE DANÇA. Programação intensa, conforme pode ser visto aqui: http://www.ciacorposnomades.art.br/wordpress/?page_id=96

Hans Bellmer, Roberto Piva e a metralhadora em estado de graça

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Ao preparar aula recente de surrealismo, pesquisando Hans Bellmer, o das bonecas e corpos metamorfoseados, achei a montagem “A metralhadora em estado de graça”, que ilustra esta postagem. Lembrei-me da mesma imagem no “Poema vertigem” de Piva, publicado em Ciclones e que transcrevi em meu artigo sobre sua relação com surrealismo, publicado em Etomia. Coincidência ou apropriação? Citação proposital ou inconsciente funcionando? Não saberemos. De todo modo, a alusão a Bellmer adiciona sentidos – ou reitera, pois, afinal, o assunto de ambos parece ser sexo polimorfo. Certamente, inúmeras de suas imagens classificadas como “delírio” e jogo gratuito escondem alusões e referências Leitores e críticos devem sempre desconfiar, além do que já sabemos e foi tema de ensaios e artigos – os mais recentes na série Roberto Piva vida poética de Ricardo Mendes Matos, leitor dos mais desconfiados e aguçados, que prefaciei: http://robertopivavidapoetica.blogspot.com.br/

“Poema vertigem”:

Eu sou a viagem de ácido

nos barcos da noite

Eu sou o garoto que se masturba

na montanha

Eu sou tecno pagão

Eu sou Reich, Ferenczi & Jung

Eu sou o Eterno Retorno

Eu sou o espaço cibernético

Eu sou a floresta virgem

das garotas convulsivas

Eu sou o disco voador tatuado

Eu sou o garoto e a garota

Casa Grande & Senzala

Eu sou a orgia com o

garoto loiro e sua namorada

de vagina colorida

(ele vestia a calcinha dela

& dançava feito Shiva

no meu corpo)

Eu sou o nômade do Orgônio

Eu sou a Ilha de Veludo

Eu sou a Invenção de Orfeu

Eu sou os olhos pescadores

Eu sou o Tambor do Xamã

(& o Xamã coberto

de peles e andrógino)

Eu sou o beijo de Urânio

de Al Capone

Eu sou uma metralhadora em

estado de graça

Eu sou a pomba-gira do Absoluto

 

Curso Surrealismo: uma poética do delírio em Londrina

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ONDE: Campus da UEL, Universidade de Londrina, PR, Sala 101 do CLCH –

QUANDO: Dias 21 e 22 de agosto, sexta feira e sábado. HORÁRIOS: 21-08, sexta-feira, das 19h às 23h; 22-08, sábado, das 8h às 12h e das 14h às 18h, sala 101.

INSCRIÇÕES de 10 a 19 de agosto 2015, pelo site da UEL (Proex, Divisão de Eventos). Valor: R$ 10,00. PÚBLICO ALVO: alunos de graduação e pós-graduação em Letras, Artes, História, Filosofia, Sociologia, Educação e Áreas afins; demais interessados. Haverá emissão de certificados para comparecimento integral. PROMOÇÃO: Programa de Pós-Graduação em Letras.

Iniciativa da professora Marta Dantas, autora de um belo ensaio sobre Nadja de André Breton e um substancioso livro sobre Arthur Bispo do Rosário, entre outras contribuições relevantes. Já dei minicurso sobre Geração Beat na UEL em 2009, também convidado por ela. Desta vez, será aproveitando a viagem para ser banca da tese sobre Kerouac de Gabriel Pinezi – pelo que tenho visto, inclusive na ocasião anterior em que fui banca, da tese de Ricardo Mendes Mattos sobre Piva no IP da USP, entre outras, a inteligência brasileira vêm se expressando através de trabalhos acadêmicos substanciosos e originais.

Ilustrei o post com uma das máscaras dos índios Hopi que fascinavam Breton. Do mesmo modo como no curso recente que dei na Cia. Corpos Nômades, eu me apoiarei em imagens, tratando de poesia e da relação de surrealismo e cidade, objetos surrealistas, outras culturas e o mundo mítico. Agradeço retransmissão e outros modos de divulgação.

Preparei uma ementa:

O tema “poética do delírio” será abordado através de dois ensaios de André Breton, “Le méssage automatique” e “Situação surrealista do objeto”, além do que está em meu ensaio “Surrealismo e filosofia”: os três, tratando do confronto de subjetividade e objetividade. Serão examinados os modos de confusão das duas instâncias, subjetividade e objetividade, na criação poética, e também nas artes visuais, cinema, arquitetura. E na própria vida, através da errância ou disponibilidade; do sonho; das aproximações a outras culturas e sociedades; dos encontros e da categoria criada por Breton, o acaso objetivo. Os tópicos serão ilustrados através da exibição de material audiovisual, além das leituras de textos. Conseqüentemente, o curso poderá interessar a estudantes, pesquisadores e outros interessados não só da área de literatura, porém de artes visuais, cinema, filosofia e antropologia.

Vou me apoiar bastante em dois livros maravilhosos: Le Surrealisme et le Rêve de Sarane Alexandrian (livro dele sobre surrealismo e artes visuais também é ótimo), e Le Miroir du Merveilleux de Pierre Mabille. Textos sugeridos para leitura prévia, da minha página no Academia.edu, https://independent.academia.edu/ClaudioWiller :

https://www.academia.edu/…/A_PROP%C3%93SITO_DO_SURREALISMO_…

https://www.academia.edu/…/MAGIA_POESIA_E_REALIDADE_O_ACASO…

https://www.academia.edu/6542…/Sobre_surrealismo_e_filosofia

E do meu blog: https://claudiowiller.wordpress.com/2012/02/09/andre-breton-pierre-mabille-haiti-vodu/

Em breve haverá mais, inclusive um curso como este, mas com oito sessões, na Unicamp.  Agradeço divulgarem, propagarem, difundirem, fazerem circular a informação

Curso de surrealismo na Unicamp: no Centro Cultural do IEL

Vejam que beleza. Será meu curso mais extenso de surrealismo desde aqueles de pós na USP em 2010 e de 2011/2012 para o Teatro do Incêndio, que tiveram 12 sessões. Utilizarei o mesmo tratamento do recente curso nos Corpos Nômades, com bastante recursos visuais, porém detalhando, avançando. E também farei isso em outras localidades e instituições, a serem divulgadas em breve. O ano de 2015 está sendo produtivo.

Surrealismo-facebook 

Parabéns à equipe do Prof. Paulo Vasconcellos pelo bom gosto dos cartazes digitais.

Postarei também nova divulgação, em breve, da minha palestra “Roberto Piva, poeta do corpo”, dia 04/08, abrindo o excitante ciclo sobre erotismo no mesmo local. E divulgarei programa deste curso.

Venham. Agradeço divulgação enfática.

 

Publicado meu ensaio “Roberto Piva e o surrealismo”

Na coletânea Reflexões sobre a modernidade: atas do Colóquio internacional Poéticas da modernidade, organizada por Flávia Nascimento Falleiros e Márcio Scheel, Jundiaí: Paco editorial, 2014.

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Substanciosa. Uma bela soma de tratamentos da modernidade. A destacar, participações importantes como a de Claude Leroy, especialista em Blaise Cendrars. Vejam a relação de artigos publicados. Em seguida, link da editora, para aquisição e demais informações.

O livro propõe uma discussão interdisciplinar que aborda este conceito em suas acepções estéticas e literárias – e políticas – no âmbito das Artes e das Ciências Humanas. Os ensaios reunidos neste livro são assinados por renomados pesquisadores brasileiros e estrangeiros que oferecem instigantes reflexões sobre esta noção ainda tão pertinente para o debate no campo das Humanidades.

Sumário:

Marxismo e modernidade; Modernidade e colonização : abordagem sócio-histórica e distanciamento crítico; As origens da sociologia e do romance: paralelos; Modernidade, cidade e escritura; A perversa modernidade iluminista: Pauliska de Révéroni Saint-Cyr; Complexidade e performatividade do Modernismo português; Modernidades atlânticas: consonâncias e distinções na literatura cabo-verdiana; Modernidade em Cendrars, ou a paixão pelas origens; Da modernidade e seus paradoxos: Paris, Aragon e Le Corbusier; Roberto Piva e o surrealismo;  O chapéu da vanguarda: leituras de Mallarmé; Notas sobre cinema e teatro em Manoel de Oliveira; A fotografia de Fernando Lemos ou a socialização do sonho; Transgresso e intertensão – 5 fragmentos para o entendimento de uma transmodernidade; Do texto à obra.

http://editorialpaco.com.br/livro/reflexoes-sobre-a-modernidade/