CURSO DE POESIA E XAMANISMO: UMA SINOPSE DA PRIMEIRA AULA

Tivemos um bom público, visivelmente interessado. Quem mão conseguiu vir, mas quiser comparecer à próxima sessão, pode, na forma prevista neste informe: https://claudiowiller.wordpress.com/2017/02/22/poesia-e-xamanismo-um-novo-curso/

Esta sinopse, como faremos para que chegue aos participantes? Grupo de e-mails? Grupo de Facebook? Coletar os e-mails? (acho que perdi meus enso de organização em algum lugar no trajeto entre a Av. Paulista e o teatro de Corpos Nômades)

Comecei pelo final, invertendo a sequência que adotei em minha palestra de julho de 2016.

  1. Abri com trecho do vídeo de Michael McClure rugindo para leões; li seu relato de experiência semelhante, conversar com animais, leões marinhos.
  2. Xamanismo e sua relação com a poesia segundo Jerome Rothenberg em Etnopoética do milênio
  3. A contribuição de Viveiros de Castro em Metafísicas canibais; o ataque à separação aristotélica, cartesiana e cientificista de sujeito e objeto (disse algo do que penso sobre behaviorismo e cientificismo em estudos literários) (também disse algo sobre mitos da criação do mundo, confrontando Gênesis, tão simples, com a exuberância do Popol Vuh)
  4. Poemas que podem ser lidos como xamânicos, valendo-nos da contribuição de Viveiros de Castro: “Versos dourados” de Gérard de Nerval. Voltarei a tratar de Nerval,a propósito de viagens órficas. “O céu jamais me dê a tentação funesta / de adormecer ao léu, na lomba da floresta” etc (que Roberto Piva declamava quando o conheci) em Invenção de Orfeu de Jorge de Lima.
  5. A distinção de Michel Riffaterre, o semiótico inteligente, entre delírio e alucinação em “Estilística estrutural”. Aplica-se a poemas que designei como xamânicos (ressalvando que no âmbito do xamanismo também há delírio, visões, sonhos e o restante).
  6. Enunciados xamânicos:
    1. “Eu sou um outro” de Nerval; os duplos românticos
    2. “O Eu é um outro” de Rimbaud – a vidência comentada por Rothenberg. Quem é este “outro” em Rimbaud? O bárbaro, o selvagem, conforme a declaração de princípios em “Mau sangue” de Uma temporada no inferno.
    3. O “índio interior” em Invenção de Orfeu de Jorge de Lima: um duplo. Minha leitura delirante de Jorge de Lima, enxergando xamanismo em toda a sua poesia – justifiquei com informação biográfica (e mais um ataque ao “recorte” cientificista de autor e obra)
    4. Os múltiplos “eus” em Michael McClure. O mamífero. “quando um homem não admite que é um animal, ele é menos que um animal”, etc.
  7. A múltipla percepção de animais e humanos, novamente conforme Viveiros de Castro – o morto humano no animal, a presa do animal no humano. Animais na literatura: quando são xamânicos?
    1. O Bestiário ou cortejo de Orfeu de Apollinaire, comparei o tratamento dado ao leão e ao polvo.
    2. A diferença entre a pantera de Rilke e o tigre de Blake, em dois poemas antológicos. A natureza sagrada em Blake, o “grande mamífero” segundo McClure.
    3. Mais animais xamânicos na poesia: a série de “cavalo em chamas” de Jorge de Lima. Remete a Lautréamont, o mais zoófilo dos escritores – comentei. Ou seria Guimarães Rosa o mais zoófilo? – observei que Guimarães Rosa é tão grande que não cabe neste curso.
    4. Herberto Helder: “espaço do leopardo”, “máscara”, “leopardo e leão”, “o idioma bárbaro”, “Estrelas africanas” “paisagem”.
    5. Os animais banidos ou submetidos nos grandes monoteísmos e no cartesianismo (mencionei M. E. Maciel, Literatura e animalidade).
    6. Li trecho de Oswald Spengler sobre deuses, cultos arcaicos e animais. Voltarei ao assunto, citarei Alain Danielou
  8. O xamanismo e o poeta performático segundo Rothenberg –O trickster, a “gargalhada de Deus”; o coiote em Gary Snyder. Artaud, nesse sentido – e em outros – foi intensamente xamânico. Mas Jorge de Lima foi performático? Não. Contudo tratou disso: o “claune”, o “triste palhaço”. Dois poemas que podem ser lidos como reconstituição de cenas xamânicas: “O grande circo místico” e “Exu comeu tarobá”.
  9. Ainda trocamos algumas idéias e informações sobre alucinógenos no xamanismo. Esbocei minha interpretação, mas voltaremos ao assunto.
  10. PRÓXIMA SESSÃO: voltarei a “tricksters”, brincalhões e travessos no xamanismo, pois acho que não examinei isso suficientemente. Há mais correlatos poéticos. E passarei a tratar de iniciação; especialmente, de catabases, viagens ao mundo dos mortos, e de Orfeu – “xamã exemplar” segundo Raymond Christinger.

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