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A Câmara Municipal de Campinas, parada obrigatória de visita turística

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Havia os “freak shows’, mostra de horrores em feiras e parques de diversão. Faziam fila para ver mulher barbada, anão, gigante, irmãos siameses, homem-elefante e outras vítimas de deformidades. O equivalente, hoje, seria visitar uma sessão da Câmara Municipal de Campinas. Aprovou por ampla maioria, 25 votos a 5, moção do vereador Campos Filho pedindo anulação da prova de redação do ENEM com a frase de Simone de Beauvoir que abre o livro O segundo sexo, “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Para o proponente, conforme a notícia, é “iniciativa demoníaca” contrária à “lei da natureza”:

http://www.pressreader.com/brazil/o-estado-de-s%C3%A3o-paulo/20151031/281870117306799/TextView

ou então,

http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/educacao/2015/10/30/vereadores-de-campinas-aprovam-mocao-contra-enem-e-simone-de-beavoir.htm

Pelas amostras, o bestialógio foi considerável. Nem passou pela cabeça dos inflamados legisladores que o tema, tal como apresentado, permitiria boas redações discordando, afirmando que a diferença biológica prevalece ou pode ser determinante. Ou então, a cândida constatação de que, de fato, a situação da mulher muda em diferentes sociedades e períodos da história – ontem mesmo, vi documentário sobre o palácio na Índia no qual as esposas do marajá ficavam enclausuradas, não podiam ver ninguém. Em boa hora, é reapresentada esta notícia sobre queima de bruxas em Salem, Massachusets, no século 17:

http://ecoviagem.uol.com.br/noticias/curiosidades/turismo/doce-ou-travessura-conheca-a-verdadeira-cidade-das-bruxas-onde-centenas-foram-torturaras-acusadas-de-bruxaria-18677.asp

O que houve com Campinas?Teve períodos mais civilizados. Melhorar transporte público (um desastre, mais difícil vir de condução de bairros de Campinas à Unicamp do que de automóvel de São Paulo – e isso talvez tenha relação com retrocesso cultural) e a qualidade de outros serviços, esses são temas que não parecem preocupar tanto os veementes legisladores municipais.

O pacote de projetos obscurantistas no Congresso – revogar controle de armas, aprovar um “estatuto da família”, perseguir a prática do aborto legal, acabar com demarcações de terras de índios, proclamar o “dia do orgulho heterossexual” e punir “heterofobia” –não basta, aparentemente, para a maioria dos vereadores de Campinas. Dependendo deles, retroagiriam o Código Civil e restaurariam o homem como chefe da família. Visitar essa Câmara Municipal deve ser como viajar no tempo, até 1950. Convém pedir garantias de que haverá a volta para o futuro….