MAIS SOBRE POETAS MALDITOS, EXCÊNTRICOS E MARGINAIS: UM NOVO CURSO

Já publiquei ensaios sobre “poetas malditos”, em periódicos. E tratei desse assunto em palestras. A categoria ganhou relevo quando Baudelaire escreveu sobre Edgar Allan Poe, argumentando que gênios literários são atingidos por uma maldição. Expandiu-se com a antologia Les Poètes MauditsOs poetas malditos, preparada por Verlaine, e incluindo, entre outros, a Rimbaud – que se declarou maldito em Uma temporada no Inferno – e Tristan Corbière. 

Observei que malditos não são apenas aqueles rejeitados pela sociedade em seu tempo, e reconhecidos tardiamente como inovadores. Um traço em comum, a uni-los, é a descida ao inferno e a interlocução com o diabo. Mostrei como o tema une, entre outros, a Baudelaire, Nerval, Rimbaud, Lautréamont, simbolistas, inclusive brasileiros; e, mais recentemente, um inovador da poesia brasileira como Roberto Piva.

Há muito mais, porém, a ser dito a respeito. Principalmente, mostrar a riqueza e complexidade das relações desses e outros autores com o mundo subterrâneo, fonte de conhecimento desde os rituais órficos da Antiguidade e das iniciações xamânicas. Sua consagração se deve a Dante Alighieri na obra máxima, A Divina Comédia. E sua diversidade e universalidade é atestada por autores tão distintos uns dos outros como William Blake, com O Casamento do Céu e do Inferno, ou Lautréamont, em Os cantos de Maldoror.              

O tema ganhou prestígio entre os simbolistas; inclusive os brasileiros Dario Veloso, Maranhão Sobrinho – autor de “Os poetas malditos” e ele mesmo, biograficamente, um maldito, que levou uma vida marginal – e, certamente, Cruz e Souza. Sua contemporaneidade é representada, entre outros, por Roberto Piva, em cuja obra a tópica da descida ao inferno é recorrente, além de ser tratada com diversidade, de modos bem distintos. Também é encontrada em beats como, entre outros, Allen Ginsberg – que mostra a transição da maldição à santidade em seu magistral Uivo – e Jack Kerouac. Já no âmbito do surrealismo, o autor exemplar, nessa categoria, será sempre Antonin Artaud – o que não impede seu exame em outros autores ligados a esse movimento, inclusive Michel Leiris e Robert Desnos, além de caber relembrar que o movimento nasce durante a Primeira Guerra Mundial em um hospício, onde André Breton e Louis Aragon serviram como residentes. 

Outras literaturas igualmente nos oferecem o contraste de maldição e êxtase. O exemplo máximo talvez seja um poeta especialmente sublime e infortunado, o austríaco Georg Trakl. Também na literatura de língua alemã, pode-se examinar, em Rainer Maria Rilke, o contraste entre as experiências de êxtase de Elegias de Duino e uma obra como Os cadernos de Malte Laurids Brigge, sobre a morte.

Enfim, no tema da maldição e das descidas iniciáticas aos mundos subterrâneos, a universalidade coexiste com a diversidade, ao longo de toda a história da poesia. Isso garante a riqueza temática de um ciclo de palestras examinando poetas malditos. Assunto não faltará.

As inscrições podem ser feitas neste link:  Cursos | Meusite (willercursos.wixsite.com)

Nestor Makhnó

(Eingeschränkte Rechte für bestimmte redaktionelle Kunden in Deutschland. Limited rights for specific editorial clients in Germany.) Makhno, Nestor Ivanovic 1888-1934anarchist leader , Ukraine (Russia)Portrait, about 1920 (Photo by Archiv Gerstenberg/ullstein bild via Getty Images)

Nestor Makhnó, líder anarquista ucraniano. Comandou o Exército Negro, e aliou-se aos soviéticos contra os russos brancos. Em seguida, no final de 1920, anarquistas ucranianos foram massacrados pelo exército soviético, então comandado por León Trotsky. Makhnó conseguiu escapar e refugiou-se na França, onde morreu em 1934. Conheci um neto dele, poeta, em um festival de poesia. Expressei minha simpatia (que permanece).

MANINHA CAVALCANTE, 21/12/1945, 17/04/2021. ARTISTA PLÁSTICA

Completa um ano, portanto. Por coincidência, também era domingo, mas não de Páscoa. Ligaram-me às 22h30 da noite. Companheira por décadas.

A artista Rosana de Moraes e eu estamos preparando um site, uma página de internet sobre ela, com imagens e informações. Quem tiver algo, envie-me, se possível anexado a e-mail (o meu é cjwiller@uol.com.br)

(o desenho é uma das ilustrações para a primeira edição brasileira de Os Cantos de Maldoror de Lautréamont)

As polêmicas irresistíveis: 1922

Theatro Municipal tem programação especial para celebrar centenário da Semana  de Arte Moderna de 1922 | O que fazer em São Paulo | G1

Pergunto: que culpa temos nós que fosse de São Paulo – da Rua Santo Antônio, ao lado de onde morei por muito tempo – o sujeito capaz de escrever e apresentar como poesia uma transgressão dessas? Isto:

RELICÁRIO

No baile da Corte

Foi o Conde d’Eu quem disse

Pra Dona Benvinda

Que farinha de Suruí

Pinga de Parati Fumo de Baependi

É comê bebê pitá e caí.

Podemos fazer listas do melhor e do pior de Oswald: alguém capaz de renegar duas ótimas narrativas anarquistas, o Miramar e o Serafim, tendo antes escrito uma pieguice de porta de sacristia como Estrela de Absinto; autor da peça de doutrinação marxista como O rei da vela, que Zé Celso, impregnado de Brecht naquela altura, transformou em uma encenação brilhante, que desencadeou o Tropicalismo; também capaz de elogiar subliteratos e achincalhar um Jorge de Lima; e, ao viajar pela Europa, de intuir o novo, como na carta a Mário de 1912, sobre “Paul Fort, príncipe dos poetas franceses” – Fort, literato menor, naquela altura, diante da tempestade vanguardista lá em curso.

Mário de Andrade? Paulicéia Desvairada, poesia crepuscular, como já foi acertadamente observado (por Antonio Candido). Macunaíma, genial – Mário leu Koch-Grunberger e foi lá, sabia do que estava falando. Querem saber minha hipótese sobre a gênese dessa narrativa? Injuriado pelo sarcasmo de Oswald (de que Mário, visto de costas, parecia Oscar Wilde), resolveu mostrar o que era antropofagia; e soube mostrar, criou uma das grandes narrativas do século passado. Mário careta, capaz de repreender o bom poeta Luís Aranha e de achar Murilo Mendes exagerado (loucura, não…!). Ao mesmo tempo, criador dos fundamentos de uma política cultural pública de qualidade (conversei com uma colaboradora, ele sabia o que estava fazendo). Mário, o modernizador anacrônico, autor da incrível observação sobre Rimbaud, que também sabia versificar bem, ou algo assim – de todo modo, uma bobagem. O atualizado (lia Borges, sabia da existência da América de língua espanhola).

São Paulo, um poço de paradoxos – quando garoto, haviam inaugurado o cine Marrocos (que pena não terem sabido preservar), para entrar lá precisava usar gravata. O burgo conservador, onde depredaram o Cassino Antártica por causa de uma palestra de Marinetti, e até o final dos anos de 1980, havia o tipo que promovia passeatas contra a Semana de 22 na Rua 24 de Maio e juntava gente – claro, ia até a sede da UBE, que por sua vez teve Mário, Paulo Duarte e Afonso Schmidt na origem….

Evidentemente, o espaço para convulsões como a Semana de 22. Junção de um vago progressismo, a intuição de um acadêmico carioca, Graça Aranha (ainda está por ser relatado o que deu nele), e algum oportunismo com a firme vontade de mudar algo. Deu certo – em boa parte, graças à cegueira e histerismo da burguesia paulista. Da classe média; parte da elite recebia os modernistas e promoveu grandes iniciativas culturais.

Outra hora, escreverei mais a respeito.

SÁTIRA E PARÓDIA NO MODERNISMO BRASILEIRO:

ANOTAÇÕES DE LEITURA SOBRE MACUNAÍMA

Claudio Willer

Retirei o artigo daqui. Pelo seguinte: grande demais para blog. Mais legível em “Musa rara”, https://www.musarara.com.br/satira-e-parodia-no-modernismo-brasileiro

Um novo curso: Visões de Antonin Artaud

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https://willercursos.wixsite.com/willer/cursos

Quando preparei Escritos de Antonin Artaud para a L&PM, em 1983 (com sucessivas reedições, a mais recente, revista e atualizada, em 2020), não havia quase nada sobre ele no Brasil. Uma biografia, a lembrança de Pagu e Dora Ferreira da Silva haverem tratado dele, um vazio nas bibliotecas. Desde então, cresceu o número de edições, saíram novos ensaios, houve as encenações (inclusive a do Oficina e o trabalho sistemático do Taanteatro, entre outros). Enfim, Artaud chegou ao Brasil. Hora, portanto, de atualizar informações. Há mais a dizer sobre a relação dele com o corpo, a linguagem, Deus e as doutrinas religiosas (especialmente gnosticismo), os rituais, o teatro. Há material audiovisual, gravações com ele e sobre ele, registros de encenações e palestras. Portanto, não faltará assunto para mais uma série de três palestras, seguindo o modo tão bem recebido através dos cursos sobre surrealismo, geração beat, gnosticismo, Rimbaud e Roberto Piva, por meio de WILLER CURSOS. 

NOVOS CURSOS: UMA CONSULTA

Cursos on line, no modo remoto, vieram para ficar, mesmo com o retorno de atividades presenciais. Há ótimas ofertas, por gente qualificada. E os resultados dos cursos que ministrei até agora através de WILLER CURSOS – Misticismo e poesia, Surrealismo, Geração Beat, Rimbaud – foram animadoras, com dezenas de participantes ativos.

Por isso, faço uma consulta sobre próximos cursos. Qual prefeririam?

Vozes de Antonin Artaud

Surrealismo e cinema

Xamanismo e Poesia.

Nas três alternativas de curso, ilustrarei, exibirei trechos.

Agradeço participação e colaboração na divulgação.

REGASTEIN ROCHA (1935-2022)

Nenhuma descrição de foto disponível.

Dos meus melhores amigos. Generoso. Talentosíssimo. Com um senso de humor único, especial. Apresentado por Roberto Piva, em 1961 ou 62: “Willer, conheci um perfeito beatnik! Regastein Rocha…!” Acabou hospedando-se em meu ap. Participou muito daquele grupo, está na foto de capa de Os dentes da memória. Será lembrado pela contribuição às artes gráficas (editoras Práxis e Raízes), porém há muito mais, que ele, retraído, não mostrava. Escrevia – li originais que ele desistiu de publicar – e, principalmente, fotografava. Frances Rocha, filhos e filhas preservarão e mostrarão. Houve exposição de suas edições, uns quatro anos atrás. E já falei algo sobre o livro dos Ianomâmi de Claudia Andujar (perseguido pelo relacionamento com Darcy Ribeiro e Thiago de Melo naquele 1977, obrigado a fechar a gráfica temporariamente, abrigado por Wesley Duke Lee, não tocava no assunto) .

Uma geração talentosa se esvai: Piva, De Franceschi, Raul Fiker, Maninha, Rugiero, Décio Bar. Conversarei com Bicelli e Ralph sobre sermos remanescentes.

Em defesa do Campo de Marte

É noticiada a transferência do aeroporto urbano e aeroclube de São Paulo, o Campos de Marte, um terreno municipal, para o governo federal, em troca do abatimento de dívidas.

O espaço poderia ter dois destinos. Um, ser convertido em mais uma bela área verde, algo de que São Paulo precisa. Outro, permanecer como está, um curioso anacronismo.

Mas não. Conforme o jornal Estadão, atual presidente pretende instalar um colégio militar (típico) e negociar o restante com a “iniciativa privada”; ou seja, entregar à especulação imobiliária, para erguerem mais um paliteiro de prédios, desfigurando a região – a exemplo do que fizeram na Água Branca – Lapa de Baixo.

Isso ainda levará algum tempo; e o mandato do atual ocupante deverá ter mais um ano. Não obstante, convém estar atento. Entidades e organizações ambientalistas / preservacionistas? Condephaat? Conpresp? Associações de moradores?

Ficar de olho. Evitar a repetição do refrão de que sempre é possível piorar.

Um novo curso: a volta de Arthur Rimbaud

A seguir, todas as informações sobre este curso.

Pode ser uma imagem de 2 pessoas e texto

Para completar ou suplementar a arte preparada por meus colaboradores em Cursos Willer, um texto detalhanado minhas intenções: Lembrando o link para inscrições e outras informações:

https://willercursos.wixsite.com/willer/cursos

Há exato um ano, dei um curso sobre Rimbaud pelo modo remoto, on line. Teve uma excelente aceitação. A ementa ou sinopse para divulgação do curso foi esta:

Terá sido Arthur Rimbaud o poeta do final do século 19 que exerceu maior influência na contemporaneidade? Por que? Sem deixar de lado sua biografia e sua lenda, o curso abordará a revolucionária poesia em prosa de “Uma Temporada no Inferno” e “Iluminações”, além de toda a sua obra em versos.

Os motivos para retomar o exame do poeta-adolescente, ícone da rebelião, são os seguintes:

  • Sempre há mais para ser dito, para ser acrescentado ao exame de um poeta com a riqueza e complexidade de Rimbaud;
  • Aprende-se dando cursos; sempre é possível melhorar o que já foi apresentado (naquele curso, em palestras anteriores, em artigos);
  • Acho que fiquei devendo e conseguirei mostrar mais: não só no exame da poesia, especialmente das Iluminações, mas no tópico da relação entre poesia e biografia, para entender como foi possível, como é que pôde o autor de uma contribuição literária decisiva largar tudo daquele modo e ter um fim de vida tão deplorável.
  • Um texto da magnitude de Flagrant délit de Breton – entre outros – merecia mais comentários, um exame mais detalhado. Caberia uma caraterização melhor da sua influência.
  • Algumas questões, acho, ficaram no ar. Por exemplo: por que ele largou tudo e migrou para a África? Afinal, ele estudou alquimia? Qual o alcance e a limitação das decifrações herméticas ou alquímicas ou gnósticas?

Enfim, não faltará assunto. Será examinada a produção poética em versos, a revolucionária poesia em prosa de Uma temporada no inferno e Iluminações, e sua marginalia precursora, como o Álbum Zútico e Os Stupra, publicados apenas em 1942.

Alguns tópicos que pretendo retomar e ampliar, começando pelo comentário do notável prosador francês Julien Gracq:

“Em lugar de ver no sentimento poético o resíduo, em meio a uma sociedade submetida às normas da razão, de uma maneira de viver e de sentir condenada, objeto de discretos suspiros e piedosos lamentos, Rimbaud o invoca ao contrário como um pressentimento, uma solicitação veemente de ser preciso “mudar a vida” para levá-la à altura da lancinante revelação. De lamentação nostálgica e lamento estéril, a poesia para ele e através dele se torna o selo de uma promessa, chamado, grito de convocação, incitação à mobilização dos novos homens que se põem em marcha.”

O autor de Le Rivage des Syrtes ilustra com algumas das frases fulminantes, expressões de um pensamento utópico e visionário, convocações ou anunciações da realização da poesia:

É mais que certo, é oráculo o que digo. … Eis o tempo dos Assassinos ….

Um toque de teu dedo no tambor liberta todos os sons e começa a nova harmonia.

Quando iremos afinal, além das praias e dos montes, saudar o nascimento do trabalho novo, da nova sabedoria, a fuga dos tiranos e demônios, o fim da superstição, para adorar – os primeiros! – o Natal na terra! O canto dos céus, a marcha dos povos!

… e então me será lícito possuir a verdade em uma alma e um corpo.

É a vigília, contudo. Acolhamos todos os influxos de vigor e de autêntica ternura. E à aurora, armados de ardente paciência, entraremos nas cidades esplêndidas.

É preciso ser absolutamente moderno.

Na Grécia, já o disse, versos e liras ritmam a Ação.

E, principalmente:

O EU é um outro.

Eu digo que é preciso ser vidente, se fazer vidente. O poeta se faz vidente por um longo, imenso e pensado desregramento de todos os sentidos.

Poemas serão projetados na tela ao serem comentados. Participantes receberão resumo de cada aula, e poderão encaminhar perguntas e comentários por e-mail.

Em tempo: a fotografia que ainda circula, supostamente de Rimbaud durante a Comuna de Paris, é fake. Foi tirada durante a derrubada do obelisco da Place Vendôme, a 21 de maio de 1871: mesma data da Carta do Vidente, que Rimbaud escreveu em casa. Esteve na Comuna na caserna de Babylone, mas caiu fora em abril daquele ano.