Mais sobre o lançamento de Marcelo

Apenas para fundamentar minhas afirmações sobre a poesia de Marcelo Marcus Fonseca, na postagem precedente, segue trecho de Da Terra o Paraíso:

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“Das ruas que frequentei na cidade que me engoliu em vício, visito ainda um canto preferido entre o cemitério da Consolação com o túmulo da Marquesa de Santos branco e pueril e de Mário de Andrade escuro, diante do qual me ajoelho e peço preguiça, e a Alameda Barros com seu supermercado 24 horas. A Canuto do Val não me interessa sem o Piva. Em outro endereço terei que viver sem a gorda vendedora de rosas, de quem fui cliente assíduo por um amor, na Rua das Palmeiras. Sim, sou fiel aos meus vendedores. Comprei muita sensação imediata desgastando minha juventude sem arrependimento até me culpar por ser eu mesmo quando me descobri: deixei um braço na Piauí, um rim na Maria Antônia, duas pernas na Alameda Barros, 122, o tesão em 1.431, a cabeça na Rua Três Rios, a bunda na Martim Francisco, o pulmão num segundo andar, o estômago na Angélica e o coração no verde-rosa dos olhos que vão falar inglês na Europa ou Nova Iorque e não paguei em parcelas. Frouxo é o homem que não paga seu preço. Queimo, queimo, queimo como bruxo que distribui liberdade.

  

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Baal é magro, de cabelos cinza. Dionísio em forma de homem vende touros que não lhe pertencem em praça pública para criar emoção e frustração. Estar e viver é seu lema. O deus fenício tem gestos de um mendigo sem dentes cuspindo os raios de Iansã.

Quando a vida pode ser equilíbrio, se apresenta assim, desordenando, pensando que a maçã do Paraíso é cera da fábula desejosa dos nove níveis do “Inferno” de Dante. Cada trajeto traz um destino.

 

Ontem revi na Jaceguai o grito de “Estrelas” para o céu entre pétalas de rosas e pipocas do corpo moribundo de um poeta antiburguês. Parecia-se comigo, mas parecia um jovem romântico, na verdade Rimbaud matando sua poesia. Parecia-me a negação de Sade pela segurança. Todo meu gosto pela pornografia esbarra na arte bem feita. Arte bem feita não é arte, porque não é honesta, não é subjetiva e, sem isso, não existe poesia. Tenho imensa pena dos sucessos mortos pelo tempo, dos que gozam por não ter feito nada e levado religiosos ao teatro. Tenho medo de quem não goza rindo.

 

Começo então a travessia em busca da Ninfa infinita que dança e se dana no mármore da existência fria como a fidelidade de sensualidade quando dorme em biquinho de menina com mais de 35. O Feminino é a única poesia possível em todos os sexos e predileções, por isso se é gay.

 

De Baal se chupa o pau do ator, se tira o sangue com luvas. O teatro é uma passagem como uma rua. Quem me dera não ser eu em cena.
Marcelo Marcus Fonseca

One response to this post.

  1. “Começo então a travessia em busca da Ninfa infinita que dança e se dana no mármore da existência fria como a fidelidade de sensualidade quando dorme em biquinho de menina com mais de 35. O Feminino é a única poesia possível em todos os sexos e predileções, por isso se é gay.”

    foda!! Que livro foda!

    Beijos!

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